quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

CHEGA DE ‘DEUS’ ARISTOTÉLICO – SE DEUS REINA, DEUS GOVERNA!

Para Aristóteles Deus é o agente motor imóvel (primum móbile immotum), um ser incorpóreo, indivisível, sem espaço, assexuado, sem paixão, sem alteração, perfeito e eterno. Ele é a causa final da natureza, é o impulso e a causa das coisas, é pura energia (o Actus Purus da Escolástica).
No entanto com a sua costumeira inconsistência, Aristóteles representa Deus como um espírito autoconsciente, todavia esse Deus aristotélico é muito misterioso, pois ele nunca faz coisa alguma; não tem desejos, vontade, propósito; é uma atividade tão pura que nunca age. É absolutamente perfeito, portanto não pode desejar coisa alguma; portanto nada faz. Sua única ocupação é contemplar a essência das coisas; e como ele próprio é a essência de todas as coisas, sua única tarefa é contemplar a si mesmo. Ele é um rei que nada faz; “o rei reina, mas não governa”.
Esse Deus aristotélico está entronizado em nossas congregações. Em primeiro lugar é um Deus misterioso e afastado, escondido no meio da ‘fumaça’ da adoração dos seus fiéis. Um Deus que está enclausurado em uma torre de marfim em algum lugar secreto que devemos ir até lá, marcar um ‘encontro’ com ele e quem sabe descobrir que ele é ‘tremendo’.
Este Deus aristotélico também é um Deus passivo. Ele nunca faz nada. Toda ação no mundo é o exercício do livre arbítrio do homem, ou a ação de Satanás, ou um espírito territorial qualquer. Toda vontade existente no mundo é do homem. Deus nunca quer. Só o homem tem querer neste altar. Também não há propósito nenhum em Deus. As coisas acontecem à mercê de alguma atividade de ordem humana, ou da natureza, ou, (devido a ‘brecha’ de certos homens), de satanás.
Enquanto isso o Deus aristotélico está a olhar no espelho e a contemplar a si mesmo. Enquanto ele se auto-admira, o mundo segue o seu curso, no governo da vontade humana ou no governo de satanás. Se alguma coisa acontecer é porque o homem deixou, decidiu, decretou, determinou, não vigiou, fracassou... e satanás que não é bobo nem nada, aproveitou a oportunidade e “pimba”.
Esse Deus aristotélico é pregado, ouvido, crido e adorado há séculos em nossas igrejas. Não é de se admirar que haja tanto planejamento, tanta correria, tanto ativismo, tanto modelo, tanta tentativa de ‘encontrar’, de ‘despertar’ o agir, de ‘mover’ o braço deste Deus.
Enquanto isso, nós ficamos aqui a contemplar o rei que reina, mas não governa. Ele tem a coroa, o título, a honra só falta o governo.
Que tal neste 2010 experimentarmos um Deus revelado, próximo, que não olha para seu próprio umbigo, mas para nós, criaturas dependentes, não apenas do seu status de rei, mas também do seu governo, com seus decretos e propósitos infalíveis?

Falemos com a mesma fé encontrada no Livro de Jó: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos podem ser frustrados” (42.2)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

APOSTOLADO CONTEMPORÂNEO – UM ERRO HERMENÊUTICO OU UM RANSO DE CATOLICISMO ROMANO?


Nestes tempos de tantas novidades, algo chama atenção de maneira muito preocupante na história recente da igreja: trata-se do Apostolado Contemporâneo, ou Restauração Apostólica. Muitos têm se levantado como apóstolos nestes dias. Apóstolos ungindo apóstolos e criando uma hierarquia apostólica. Alguns pastores que, talvez por se sentirem menores que seus colegas de ministério que foram ungidos como apóstolos, ungem-se a si mesmos e se auto-proclamam apóstolos. Não há fundamento para o chamado ministério apostólico contemporâneo pelo simples fato do mesmo não possuir respaldo bíblico.

O termo
Segundo o Dicionário Bíblico Universal, o termo apóstolo “significa mais do que um 'mensageiro': a sua significação literal é a de 'enviado', dando a idéia de ser representada a pessoa que manda. O apóstolo é um enviado, um delegado, um embaixador” (Buckland & Willians, p. 35) . A Bíblia de Estudo de Genebra também aplica esta descrição, dizendo que apóstolo “significa 'emissário', 'representante', alguém enviado com a autoridade daquele que o enviou” (Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1272).

A frágil sustentação
Aqueles que defendem esta frágil posição, têm se sustentado principalmente na má interpretação do texto de Efésios 4.11 para o uso do ministério apostólico para nossos dias. O texto de Efésios 4.11 diz: “E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres”.

A refutação
As regras mais simples de hermenêutica nos ensinam que os textos sagrados nunca devem ser tirados de seu contexto. E no contexto da epístola de Paulo aos Efésios, temos no capitulo 2 o texto que prova que este ministério não mais existe. Em Efésios 2.19-20 diz: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular”.

Cristo é a pedra angular e os fundamentos foram postos pelos apóstolos e profetas. Os evangelistas, pastores e mestres são os responsáveis pela construção das paredes desta obra. Como bem explica Norman Geisler “De acordo com Efésios 2.20, os membros que formam a igreja estão 'edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas'. Uma vez que o alicerce está pronto, ele não é jamais construído novamente. Constrói-se sobre ele. As Escrituras descrevem o trabalho dos apóstolos e dos profetas, quanto à sua natureza, como um trabalho de base” (Geisler, p. 375).

A Bíblia registra o uso do termo apóstolo a outros personagens. Russel N. Champlin explica que “há também um sentido não técnico, secundário, da palavra ´apóstolo´. Trata-se de uma significação mais lata, em que o termo foi aplicado à muitas outras pessoas, nas páginas do NT. Esse sentido secundário dá a entender essencialmente ´missionários´, enviados dotados de poder e autoridade especiais” (Champlin, p. 288, v. 3).

Existiam duas exigências fundamentais para que um apóstolo fosse reconhecido para tal função:

1) Ser testemunha ocular da ressurreição de Jesus Cristo (Atos 1:21-22; Atos 1.2-3 cf. 4.33; 1 Coríntios 9.1; 15.7-8);
2) Ser comissionado por Cristo a pregar o Evangelho e estabelecer a igreja (Mateus 10.1-2; Atos 1.26).

No entanto, os que se intitulam apóstolos em nossos dias não se encaixam nos padrões bíblicos que validam o apostolado.

É interessante que, enquanto Paulo refere-se a si mesmo como “o menor dos apóstolos” (1 Coríntios 15.9), os atuais apóstolos tem por característica a fama e a ostentação do título. Tudo é apostólico! A unção é apostólica! Os eventos são apostólicos! As músicas são apostólicas! Nem de longe se assemelham com a humildade dos apóstolos bíblicos. Eventos, cultos e seminários se tornam mais interessantes quando a presença do Apóstolo Fulano é confirmada. É um chamariz: “venha e receba a unção apostólica diretamente do Apóstolo Beltrano”. Tais apóstolos têm se colocado como super-crentes, uma nova e especial classe da igreja, a elite cristã dos tempos modernos. Hoje existe de tudo um pouco neste balcão mercantil da fé: Apóstolo do Brasil, Apóstolo da Santidade, Apóstolo do Avivamento e até mesmo o mais popular apóstolo brasileiro, chamado por muitos por “Paipóstolo”.

O que pode está por trás deste interesse pelo título é explicado de uma forma muito esclarecedora, por Wayne Grudem: “Embora alguns hoje usem a palavra apóstolo para referir-se a fundadores de igrejas e evangelistas, isso não parece apropriado e proveitoso, porque simplesmente confunde que lê o Novo Testamento e vê a grande autoridade ali atribuída ao ofício de ‘apóstolo’. É digno de nota que nenhum dos grandes nomes na história da igreja – Atanásio, Agostinho, Lutero, Calvino, Wesley e Whitefield – assumiu o título de ‘apóstolo’ ou permitiu que o chamassem apóstolo. Se alguns, nos tempos modernos, querem atribuir a si o título ‘apóstolo’, logo levantam a suspeita de que são motivados por um orgulho impróprio e por desejos de auto-exaltação, além de excessiva ambição e desejo de ter na igreja mais autoridade do que qualquer outra pessoa deve corretamente ter”. (Grudem, p. 764).

Tamanho o fascínio que os crentes possuem por essa Restauração Apostólica, gera preocupação nas lideranças mais sóbrias. Vale citar as sábias palavras de Augusto Nicodemus Lopes: “Há um gosto na alma brasileira por bispos, catedrais, pompas, rituais. Só assim consigo entender a aceitação generalizada por parte dos próprios evangélicos de bispos e apóstolos auto-nomeados, mesmo após Lutero ter rasgado a bula papal que o excomungava e queimá-la na fogueira.”
E agora fica as perguntas: quem vai rasgar a ‘bula’ apostólica contemporânea?
Alguém se habilita?
Medo da excomunhão? Talvez isso sim, explique nossa passividade ao apostolado contemporâneo, afinal os ‘caras’ tem bastante ‘poder’.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O NATAL QUE OS ‘EVANGÉLICOS’ ESTRAGARAM


Quando eu era menino, de todas as festas religiosas que se comemorava lá em casa, o natal era a principal. Tínhamos uma casa grande de onze cômodos, éramos sete irmãos, e ainda tínhamos os parentes mais ‘chegados’ que sempre vinham para a prosa do dia natalício. Era tudo uma festa, comidas, bebidas, músicas, alguns presentes e muita prosa, “causos” que deliciava os nossos ouvidos infantis. Não tínhamos árvore de natal, nem a figura do papai Noel, (nossos pais não via necessidade deles), Mas havia muita alegria. Era um grande dia.
Eu cresci curtindo o natal. Até hoje, os familiares mais perto se encontram, conta as estórias e se divertem. Na minha adolescência, participava das peças ‘teatrais’ em nossa igreja. Enfeitar a igreja com os enfeites típicos natalinos, era uma grande festa pra nós. Mas nunca passou pela minha cabeça que estava participando de uma festa pagã. Nem sonhava na idéia de que um dia um grupo de ‘crentes’ espirituais demais iria estragar esta festa.
Hoje em nossas igrejas não se comemora o natal. Isso é paganismo, afirmam. Árvore de natal, nem pensar. Sem falar de Papai Noel, este está de todo ‘encapetado’.
Mas esta idéia não é novidade para nós. Há muito tempo se pensa que o Natal tem raízes pagãs. Por causa de sua origem não-bíblica, no século 17 essa festividade foi proibida na Inglaterra e em algumas colônias americanas. Quem ficasse em casa e não fosse trabalhar no dia de Natal era multado. Mas os velhos costumes logo voltaram, e alguns novos foram acrescentados. O Natal voltou a ser um grande feriado religioso, e ainda é em muitos países.
É verdade que segundo estudos, a data de 25 de dezembro não é a data real do nascimento de Jesus. A Igreja entendeu que devia cristianizar as festividades pagãs que os vários povos celebravam por altura do solstício de Inverno.
Portanto, segundo certos eruditos, o dia 25 de dezembro foi adotado para que a data coincidisse com a festividade romana dedicada ao "nascimento do deus sol invencível", que comemorava o solstício de inverno. No mundo romano, a Saturnália, festividade em honra ao deus Saturno, era comemorada de 17 a 22 de dezembro; era um período de alegria e troca de presentes. O dia 25 de dezembro era tido também como o do nascimento do misterioso deus persa Mitra, o Sol da Virtude.
Assim, em vez de proibir as festividades pagãs, forneceu-lhes um novo significado, e uma linguagem cristã. As alusões dos padres da igreja ao simbolismo de Cristo como "o sol de justiça" (Malaquias 4:2) e a "luz do mundo" (João 8:12) revelam a fé da Igreja n'Aquele que é Deus feito homem para nossa salvação.
Apesar deste sentido cristão dado a festa, nesta época os “estraga-festas” de plantão, atiram contra toda demonstração natalina dentro da igreja. Mas participam dela no comércio, gastando e até se endividando pela compulsão consumista provocada pelos “gingos-bels” das lojas.
A mensagem da Encarnação do Logos, não é evidenciada neste período, com o medo de estarmos participando de culto pagão. Mas quanto paganismo está dentro de nossas igrejas? Sim, quantos? Rosa ungida, toalhinha da bênção, martelinho, óleo ungido de Israel, águas do Rio Jordão, sabonete da purificação, galhos de arruda, sal grosso, Terra de Israel, espadas, chave da bênção da casa própria, pedras da coluna, ...
Isso não seria paganismo? Claro que sim. A diferença é que este paganismo evangélico, ainda não tem dia marcado no calendário. Até que este dia chegue vão estragando o natal dos outros.
Pra quem não tem superstição neste dia: FELIZ NATAL! BOAS FESTAS!!!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

MALAFAIA E SUA BÍBLIA MÁGICA VERSUS 70 MILHÕES DE POBRES NO BRASIL


Eu estou envergonhado com a proposta do Malafaia. Estou falando da Bíblia Sagrada, um livro universal, que a Associação Vitória em Cristo, de um famoso pregador insiste em fazer “oferta casada”, cobrando a simplória quantia de 900 reais. Uma bíblia nesta versão, não custa mais que R$ 150,00 nas livrarias especializadas.
Mas também estou envergonhado pela estupidez do povo que se diz povo de Deus. Mas isso não é novidade porque o profeta já havia comparado a nossa capacidade de discernimento com a capacidade de discernimento dos jumentos, e o resultado não é nada animador – OS JUMENTOS GANHARAM (Is 1.3). Sim existe um cérebro, menor que o cérebro de jumento em nós, que nos impede de discernir, de entender Deus e a sua Palavra.
Sendo assim não é de admirar-se que um mercador que nos ofereça uma “casadinha” (promoção que pra você levar um produto tem que comprar outro), nos assanhe a cobiça consumista e oportunista, consiga nos influenciar, a ponto de aceitarmos a proposta do mercado da fé.
Pior que isso é não perceber que o sujeito está nos ludibriando. Ora, de bíblia não entendemos ‘patavina’ nenhuma, mas ao menos poderíamos aproveitar as informações que a mídia nos passa.
O Malafaia e a sua bíblia mágica estão blefando pessoal. Pior que isso, está mentido. Mentindo que lá dentro da “lamparina”, disfarçada de bíblia, tem uma “unção de prosperidade’, que vai libertar aquele que a manusear, (a saber, comprar), de toda a “maldição de pobreza”.
Malafaia, não é só você e os seus seguidores que são “jumentos”. O seu “Deus”, também é um jumento. E mais, é déspota, malvado e que tem prazer em “sacanear” com os pobres. Sim, porque o Brasil é um dos primeiros do mundo em desigualdade social. Aqui, 1% dos mais ricos se apropria do mesmo valor que os 50% mais pobres. A renda de uma pessoa rica é 25 a 30 vezes maior que a de uma pessoa pobre. Há no País 56,9 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza e 24,7 milhões de pessoas vivendo em extrema pobreza.
Será que Deus não contemplou estes 70 milhões que estão debaixo da ‘maldição’ da pobreza? Será que Deus não tem prazer de ‘liberar’ sua “unção de prosperidade” sobre estes miseráveis? Claro que sim, Deus quer, mas eles infelizmente não podem comprar o QUERER de Deus. E este querer, na promoção de Fim de Ano, está custando apenas R$ 900,00. Se você não tem, só te resta está pelo PAPAI NOEL. Quem sabe ele te manda uma bíblia da prosperidade de presente! O bom velhinho parece ser mais camarada que o “Deus”, do Malafaia. Pelo menos ele não vende o presente. Se não vir, você já está no lucro. Não pagou nada. Só esperou.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

MALAFAIA DE MALA CHEIA


O povo de Deus que me perdoe, mas que povinho atrasado estes ‘crentes’, viu!
O Malafaia está vendendo (vendendo não), está doando uma bíblia poderosa ao povo evangélico, por uma oferta voluntária de R$ 900,00. Se você quiser a bíblia que está sendo doada, basta acessar o site e solicitar sua bíblia, e ofertar uma quantia voluntária do valor descrito acima.
Que doação!!!
Como é caridoso, este pastor!
Que voluntariedade!
Vem cá, eu posso pagar só R$ 10,00?
De jeito nenhum! Você acabaria sem a bênção porque o propósito é de R$ 900,00. Deus trabalha com propósito. Oh, deusinho, desinformado este nosso. Não sabe nada da pobreza dos seus fiéis. Aqui no Brasil, deus, a maioria dos crentes ganham salário mínimo. Estão vivendo com R$ 450,00. Não sobrará para te comprar a bíblia de R$ 900,00. Neste caso, deus, os caras que o senhor teria que prosperar. Que teria que libertar-los da prisão e da maldição da pobreza, vão continuar sem a unção especial sobre a vida financeira.
Mas este deus, não se importa. Ele fará outra promoção. Tempo não há de lhe faltar. E criatividade também. Afinal este deus, é um expert em “tomar” o dinheiro dos fiéis.
Quanto ao pessoal que vão comprar a bíblia, eu lhes asseguro. A bíblia da prosperidade funciona mesmo. Quando acessar o site e fizer a “transação” já desencadeia uma unção de prosperidade. Neste exato momento alguém está ficando mais rico – mas este alguém não é você. Quem vai encher a mala é o Malafaia.
Ah, já ia me esquecendo o preço de bíblia de estudo varia entre R$ 90,00 à R$ 150,00.
Já que o negócio é negociar faça as contas dá pra comprar umas 10 bíblias. E aproveita pra doar uma para o Malafaia, quem sabe ele se converte a graça do Evangelho.

ECOLOGIA E A MENTALIDADE DESTRUIDORA DA TEOLOGIA DOENTIA DE ALGUNS EVANGÉLICOS


Hoje em dia estamos vivenciando uma grande ameaça à vida devido a agressão feita a nossa casa, o planeta Terra. Seus recursos naturais estão se esgotando, florestas estão sendo devastadas e isso afeta a harmonia do planeta. Mudanças no clima, por exemplo, já são uma realidade. Mas são muito mais numerosos e terríveis os agres¬sores da natureza. Queimadas, desmatamentos, monocultura e agropecuárias dos latifúndios, agrotóxicos, caça e pesca predatória e indiscriminada, grandes barragens, poluição das águas e do ar e por aí a fora.
- Mas e daí ? Perguntam alguns.
- E eu com isso. Dizem outros.
- Afinal isso tudo vai pegar fogo!
Tem ‘crentes’, olhando para o aquecimento global e dando glórias a Deus, porque afinal Jesus está voltando. É o fim dos tempos. Glória a Deus!
Tem ‘crentes’, pouco se lixando com o planeta, porque afinal a “terra vai pegar fogo”, é bíblico dizem eles.
E nesta mentalidade destruidora, nesta tara apocalíptica, neste desejo de ver o ‘fogo do juízo’ divino se abatendo contra os infiéis, celebramos a destruição do planeta.
Sim, celebramos a destruição da Terra em nome de uma suposta catástrofe já profetizada e determinada por Jeová, que não tem ‘crente’ que impeça de acontecer, afinal os desígnios proféticos de Deus não serão frustrados.
Essa teologia doentia ameaça o planeta. E impede que os ditos ‘evangélicos’ aceite ao menos discutirem a possibilidade da pauta ecológica na igreja.
Os países que nos venderam esta teologia são os que mais poluem o planeta e resistem qualquer possibilidade de reconciliação com a mãe natureza.
Esta mentalidade destruidora impulsionada a séculos por uma teologia doentia nos empurram para um final catastrófico, e nos acenam com a consolação: “fique tranqüilos, nos vamos morar no céu ao lado de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”.
E agora o que fazer Jesus?
Jesus, se me permite um aviso. Cuidado com o teu céu, quando chegarmos por aí.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

PASTORES-LOJISTAS E CRENTES-CLIENTES – UM SHOPPING-CENTER CHAMADO ‘IGREJA’

O que você espera encontrar na igreja evangélica? Qual o tipo de atendimento você espera receber? Que tipo de ‘produto’ você deseja levar para casa? Observando nossa igreja evangélica e seus ministros nos fazem crer que o que estas oferecem tais como: programas, encontros, retiros, oficinas, conferências, mas parece um serviço de consumo. A mentalidade do marketing predomina, a ilusão de que o mero uso de técnicas e programas irá resultar em sucesso e crescimento. Ao que nos parece os pastores e suas igrejas se se metamorfosearam num grupo de lojistas. Eles estão preocupados com as preocupações dos lojistas: como manter seus clientes felizes, como atrair mais clientes para longe dos competidores do outro lado da rua e como empacotar seus produtos de forma que os consumidores paguem mais dinheiro. Alguns deles são muito bons lojistas. Eles atraem uma multidão de consumidores, angariam grandes somas de dinheiro, adquirem esplendida reputação. Mesmo assim isso é apenas comércio. É verdade que sejam bons donos de lojas, mas não deixam de ser apenas lojistas. Igrejas se tornam firmas, meras lojas que fabricam e vendem produtos religiosos, em busca de clientes e aumento de sua fatia no competitivo mercado religioso. Mesmo sem toda a sofisticação das grandes empresas, elas têm aprendido a utilizar as estratégias de marketing de maneira eficaz, procurando conhecer as demandas do público, oferecendo-lhe produtos diferenciados das outras igrejas e específicos às necessidades físicas, emocionais, profissionais e espirituais dos membros, para que possam satisfazer os seus desejos. A Igreja neste contexto deixa de ser o povo de Deus e assume dimensões materialistas e consumistas. Essas igrejas tendem a serem dominadas por uma prática de vida auto-centrada, egoístas, mais preocupadas com a edificação de seus impérios pessoais do que com a expansão do Reino de Deus. Diante de tantos produtos religiosos e opções eclesiásticas, lamentavelmente o crente-cliente e o visitante desigrejado se vêem com total liberdade para utilizar critérios consumistas na escolha da melhor igreja. Os critérios são semelhantes àqueles utilizados na escolha de um restaurante ou pizzaria: prazer, sabor, gosto, qualidade do produto e atendimento, promoções, boa propaganda, etc. O envolvimento nas igrejas em geral é estritamente opcional e exercitado pelo indivíduo, com sua própria decisão pessoal. Já vimos que, como resultado, membros e não-membros são vistos como consumidores religiosos atrás de produtos, buscando os serviços religiosos que melhor se encaixem às suas necessidades pessoais.
A impressão é que o reino de Deus poderia ser alcançado através de genialidade humana e capacidade profissional. No fundo do coração, cresce a florzinha da auto-suficiência que afirma ser o crescimento da igreja resultado muito mais do planejamento e esforço humano do que ação de Deus e poder do Espírito Santo.

QUANDO DEUS VIRA “CAÇA” E O HOMEM VIRA O “CAÇADOR”

Sábado passado teve um amigo secreto em minha igreja e fui comprar um presente para o meu amigo. Entrei numa livraria. Vi um livro com um título no mínimo intrigante: “Caçadores de Deus”. Me veio uma vaga lembrança, que me parece que num de nossos Encontros de Associações de Jovens de nossas igrejas, este foi ou queriam colocar este tema. Não me lembro. Parece que estava na moda, ou era a temporada de “caça a Deus”. Coisa deste tipo. Não me lembro bem. Mas deixa pra lá.

Bem, voltando a livraria. Aquele livro me fez pensar como seria a tal “caça a Deus”.Um Deus acuado, sem ter pra onde correr senão para os braços daquele que lhe “acolherá”. Papéis invertidos? Lógico! Palavra deturpada? Sem dúvida alguma...O homem sempre esteve em busca de Deus, sempre “caçou” Deus... e todas as tentativas dessa perseguição do elemento divino terminaram inexoravelmente em RELIGIÃO. A religião é isso: o homem em busca de Deus, uma busca desesperada, pelos seus próprios esforços, sacrifícios, na tentativa de prender esse mesmo Deus ao seu sistema de ritos, doutrinas e convenções humanas.
A religião é, portanto, inerente ao ser humano. O vazio existencial, o buraco negro da alma em busca de algo que o possa preencher, tudo isso clama pela religiosidade. E ela então chega, como se fosse a salvação para o homem. O homem então se entrega na sua busca de Deus, fazendo dele a caça, o alvo a ser alcançado, atingido... para depois de preso, estar sujeito aos seus caprichos e deleites.
Ordens dadas a Deus, decretos em que Deus nada mais é do que um serviçal, orações que comandam o braço de Deus, palavras mágicas que “liberam” o poder de Deus, isso tudo fica bem na boca dos bruxos e magos da religião, tenham eles os títulos de bruxos, mestres, pastores, bispos ou apóstolos. Bruxaria sempre será bruxaria venha de onde vier, principalmente dos mandatários da religião.
A bruxaria evangélica não é diferente. Parte da presunção de alguns em, com palavras mágicas (abracadabras evangélicos) manipularem o braço de Deus. Deus então, segundo essa “tiologia”, se vê obrigado a fazer o que os seus “profetas” ordenam.Deus está preso!
Deus está enclausurado!
Deus foi caçado!
Nossos cultos, nada mais é que o convite para saborear a ‘caça’.

Desculpe. Já ia me esquecendo.

Vai um bocado aí!?

Hummmmm!!!! Está uma delícia!

Divino!!! (nhac, nhac, nhac...)

PORQUE ESTOU PARANDO DE OUVIR MÚSICAS EVANGÉLICAS

Já faz algum tempo que estou parando de ouvir música evangélica. As pessoas me criticam, me julgam e tal. No entanto não o faço por rebeldia, por estar “desviado”, “frio’ espiritualmente, nada disso. É a qualidade da música evangélica que me desamina. E depois quem disse que sou obrigado a ficar ligado nas rádios evangélicas ouvindo qualquer coisa, só porque sou evangélico? Mas pra não falar só na teoria andei analisando algumas músicas que ouvimos no rádio e cantamos na igreja.Minha primeira conclusão é que estamos passando por um grande deserto. A igreja deve estar passando por um grande período de estiagem, de seca. Só isso pode explicar a quantidade de músicas pedindo chuva. Faz chover, derrama tua chuva, vem com tua nuvem, abre as comportas do céu, derrama a chuva, chuva de avivamento...Em contrapartida, também fala-se muito de fogo. Quando não é chuva, é fogo. Realmente é fogo ouvir tanta coisa assim. Tinha até uma música (?) falando do “diabo fazendo careta, e o crente com esse fogo faz churrasco de capeta”. Acho que a mesma música ainda falava de “fogo no diabo da cabeça aos pés”. As outras falavam de fogo como algo bom. Não consigo ver isso na linguagem bíblica. Fogo sempre está relacionado a destruição, juízo, etc. Era tanto fogo que, é claro, tinha que ter alguém se derretendo. Pois é exatamente o que diz uma das músicas que ouvi, num super arranjo instrumental, muita animação, uma letra boa até o ponto que fala que “eu vou me derreter...”
Lembrei-me, e não tinha como não lembrar, dos amigos de Daniel, na fornalha... nem um fio de cabelo tostado, inteiros, intactos. Eles não derreteram. Também lembrei de Paulo escrevendo aos Coríntios dizendo que “se alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um, pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo FOGO (...) se a obra de alguém se queimar (derreter), sofrerá ele dano.” Bem... eu continuo querendo não ser derretido.
Outra coisa. Alguém pode pedir para os “levitas” pararem de pregar entre as músicas? O pior é que o choro das milhares de “valadões” deu lugar a voz ofegante e “cansada” dos “Quinlans, Sheas e Fernandinhos”. Parece que os camaradas correram uma maratona antes de chegarem ali, então gritam com voz rouca, emocionada, sensual (também, com tanta música falando de beijo, abraço, colo, carinho, etc). E o público delira...
Previsão do tempo na música “gospel”: Se não tiver chuva, o tempo vai ficar nublado. Só isso pra explicar a quantidade de nuvens no céu da música evangélica. As nuvens de glória nem deixam o sol da justiça brilhar, esse é o problema. Aliás, nuvem de glória não, shekiná (esqueci que tudo agora tem que ser em hebraico). Shekiná prali, Shekiná pra lá, nuvem, peso de glória, nuvem carregada. Sai de baixo... vem temporal aí!
Aliás o tempo também está propício a romances. Como tem músicas românticas no nosso meio. Engraçado é que pra não dizerem que fizeram uma música SOMENTE romântica, todas elas têm algo do tipo “Deus quem me deu você”, só pra não admitirem que o que queriam mesmo, no fundo no fundo, era fazer sucesso no meio secular, como cantores românticos. Mas como a qualidade não é lá essas coisas, permanecem no meio “gospel”, pois aqui qualquer porcaria vende (lá também, mas o jabá é mais alto).
Outro lado dessa moeda, e esse eu acho pior, são as músicas românticas-sensuais-eróticas que são dedicadas a “Jesus”. Também, não era de se esperar menos, afinal de contas, com uma NOIVA tão desesperada...
É um tal de “quero teu colo”, “teu carinho”, “quero te beijar, te abraçar”... Mais legal ainda são algumas capas de CD´s com um Jesus “saradão” vindo resgatar a noiva. Aliás, eu gostaria de perguntar uma coisa: Quem seqüestrou a noiva??? A noiva está sendo preparada ou está em cativeiro??? Sim, porque é tanto clamor pro noivo vir resgatar a noiva que eu já nem sei mais o que pensar. E eu pensando que a noiva estava sendo adornada, purificada, preparada para as Bodas do Cordeiro. Que nada! Ela está sob domínio do inimigo, necessitando ser resgatada pela SWAT angelical ao comando do noivo “saradão”.
Aliás, realmente eles pensam que é assim. Só isso pode explicar tantos cânticos pedindo “libertação” e “cura” para os que já foram salvos. E mais uma vez eu aqui, com cara de trouxa, acreditando que a liberdade conquistada na cruz era suficiente, que o sacrifício ÚNICO de Jesus bastou para me libertar. Nada disso! Todo culto eu tenho que clamar: “Vem me libertar”, “Quebra minhas cadeias”, “Enche meu coração vazio”, “Liberta-me Senhor”. E eu pensando que “se, pois, o FILHO vos libertar, VERDADEIRAMENTE SEREIS LIVRES”. Que bobagem a minha...Bem... na verdade eu to parando de ouvir música evangélica, pra não desviar da simplicidade do Evangelho que me apresentaram a 20 anos atrás.


Ah, o Evangelho já mudou!? É novo tempo!? Vixi! To atrasado heim!?

MAGIA EVANGÉLICA: “TÁ AMARRADO!”

Quando a Rede Globo lançou a novela “Eterna Magia”, o povo evangélico, como era de se esperar, ficou em polvorosa. Principalmente a ala que não vive sem essa “guerra santa” contra as hostes do “mal”. Recentemente com a novela das 8 “Caminho das Índias”, a coisa não foi diferente, deram nomes de demônios para cada um dos milhares de deuses da Índia invocado na novela, e descreveram a maldição que estava associada a cada expressão “indiana”, proferido pelos personagens, e aí daquele que repetisse um destes jargões no dia-a-dia. A Globo gosta disso, já sabemos e não é para esperar algo diferente.
Mas, me preocupo com outras magias. Aquelas que são feitas em nome de Deus e de Jesus, sob a “autoridade” do Espírito Santo.
Falo da “eterna magia” do evangelho fácil da prosperidade, da “eterna magia” do evangelho pagão de Neuza Itioka e cia., da “eterna magia” louca e desvairada do paipóstolo Terranova, da “eterna magia” dos Hernandes que enganam o povo ingênuo (alguns nem tanto) da Renascer, fazendo-os tomarem a espada pelos seus erros, corrompendo um povo que deveria, a princípio, buscar o seu prazer na verdade.
Essas “magias” são mais perigosas que a da wicca, pois trazem em seu conjunto as palavras mágicas “em nome de Jesus”, e com isso, enganando a muitos, desconhecedores que são (propositalmente por suas lideranças) da Palavra de Deus e profundos conhecedores das visões e revelações “mágicas” de seus falsos mestres e apóstolos.
Enquanto não acordarmos para a bruxaria evangélica que tão claramente nos corrompe, essa guerra contra os outros bruxos e bruxas será brincadeira de criança: queremos tirar as crianças da roda das bruxas da wicca, para faze-las crianças nas rodas de bruxaria pesada de nossos encontros evangel-wiccos, rodas repletas de regressões, maldições, palavras poderosas, misticismo, demônios e anjos ao bel-prazer dos líderes-feiticeiros-pajés que se auto-denominam apóstolos, “bispas”, bispos, bispos primazes, etc...
Lamento que não haja tanta disposição no meio cristão de lutar contra esses bruxos, a fim de salvar da ignorância mística e pagã as milhares de pessoas que não só estão sendo enganadas por esses mercadores da fé como celebram e festejam o engano.
O Jesus mântrico e místico é o que essas pessoas querem, não o Jesus da cruz...
E não entendem que é exatamente o Jesus da cruz que expôs os demônios à vergonha, triunfando sobre eles em seu sofrimento e em sua obediência, pelo que Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que está acima de todo nome, para que ao nome de JESUS (o da cruz, não o da bruxaria evangélica) se dobre todo joelho.
Diga não à “magia” evangélica!
Quanto à “guerra espiritual” contra as novelas da Globo... essa é a mais fácil de ser vencida... é só apertar aquele botãozinho, geralmente no canto superior do seu controle remoto: “OFF”. E está vencida essa tão “pesada” batalha.
Mas... a turma... no fundo, no fundo... gosta mesmo é do diabo!
Que Deus nos guarde dessas magias!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A LÓGICA DA PRETERIÇÃO: COMO EXPLICAR O “DECRETUM HORRIBILE”

A doutrina da preterição ou simplesmente reprovação é uma doutrina bastante desagradável para o sentimentalismo humano. Nem todos os que aceitam a doutrina da eleição, se acham à vontade quando o assunto é a reprovação, ou preterição. Mesmo Calvino, estava consciente da profundidade desta doutrina. E chegou a chamá-la de “Decretum horribile”. Mas a dificuldade desta doutrina não pesa somente sobre os calvinistas, mas sobre todas as escolas teológicas. Apesar das dificuldades em aceitação desta doutrina e dos muitos adversários que se tem levantado contra ela no decorrer dos séculos, ela está lá e permanece palmilhada nas páginas das Escrituras. A doutrina da reprovação é uma conseqüência lógica da doutrina da eleição. Ao, se Deus não escolheu todos, logo alguém foi rejeitado ou reprovado. Mas tudo depende de como se encara e se argumenta sobre o assunto.

1. Nossa dificuldade de compreensão do pecado: O pecado é um fato incontestável. Todo aceitou isso, porém temos dificuldades de compreender o mal ou a permissão de Deus para o pecado no gênero humano.

2. Deus odeia o pecado e sua justiça exige que os pecadores sejam punidos: Ninguém que conhece a Bíblia, nega tal verdade; Deus tem o direito de punir os transgressores da sua lei, e podia condenar todos, uma vez que todos pecaram, sem com isso ser taxado de um Deus injusto.

3. Uma pergunta que merece uma resposta: Deus foi injusto em reprovar os transgressores de sua santa vontade? Ora, se admitimos que Deus fosse justo à condenação dos pecadores, temos que admitir que Deus também fosse justo ao condenar os não eleitos, que são pecadores.

4. Os arminianos não têm dificuldade em aceitar a reprovação, ou rejeição dos anjos caídos, para os quais Deus não fez nenhuma provisão ( 2 Pd 2.4). Vemos que alguns não têm repugnância à reprovação destes anjos e até glorificam a Deus, mas quanto aos homens, (que também não caíram por culpa de Deus, mas de um ato voluntário de sua vontade, portanto merecedor é do castigo de Deus), somos relutantes em aceitar esta doutrina na vida destes homens.

5. A reprovação é um ato negativo de Deus: Diferentemente da eleição, que é um ato positivo de Deus, pelo qual ele escolhe, do meio da massa perdida do gênero humano, certo número de pessoas para a salvação; a reprovação é um ato negativo de Deus, pelo qual ele deixa que o resto da humanidade, em seus pecados sofra as conseqüências de sua desobediência. Neste caso “os eleitos são monumentos da graça. Os não eleitos serão uma revelação de sua justiça”.

6. Prova da doutrina da reprovação: Todos os argumentos que provam a eleição provam igualmente a reprovação, como já mencionamos a reprovação é a conseqüência lógica da eleição. Vejamos:

1. A regeneração é um ato soberano e poderoso de Deus. Somente Deus pode regenerar. Se ele não regenera a todos, claro que não é seu propósito fazê-lo, logo ele decidiu não eleger todos. Neste caso houve reprovação de alguns.

2. Nem todos vão a Cristo. E sabemos pelas palavras do próprio Cristo que “ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer” (Jo 6.44). Se todos não vem a Cristo é porque ele não leva todos a ir a Cristo. Logo alguém está reprovado aqui.

3. A fé é uma dádiva de Deus, se todos os homens não a recebem, é claro que Deus decidiu não conceder a todos. Jesus falava aos judeus que o rejeitavam: “Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas.” (Jo 10.26). E quem são suas ovelhas? A resposta está em Jo 10.29, aqueles que o Pai lhe deu.

4. Deus deu a Cristo um povo especial, a quem ele escolheu “do mundo”. E estes e ninguém mais são objetos da sua oração intercessora em João 17.9: “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me tens dado, porque são teus”. Sendo assim é claro que o resto do mundo não foi contemplado, não foi dado a Cristo. Neste caso temos a reprovação do restante.

5. O caso dos cidadãos de Tiro, Sidom e Sodoma em Mateus 11.21-24: “Ai de ti, Corazin! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom, se tivessem operado os milagres que em vós se operaram, há muito elas se teriam arrependido em cilício e em cinza. Contudo, eu vos digo que para Tiro e Sidom haverá menos rigor, no dia do juízo, do que para vós. E tu, Cafarnaum, porventura serás elevada até o céu? até o inferno descerás; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje. Contudo, eu vos digo que no dia do juízo haverá menos rigor para a terra de Sodoma do que para ti.” Apesar de Deus prever o arrependimento destas pessoas, não lhes deu uma oportunidade de se arrependerem. Isso prova duas coisas: Primeiro que arrependimento previsto não serve de base para Deus eleger ninguém. Segundo se Deus não lhes deu uma oportunidade de ver os milagres de Cristo para que eles se arrependessem, segue-se que foram rejeitadas, não foram contempladas. Há injustiça em Deus por condenar o povo corrupto de Sodoma? Certamente que não.

6. Existem dois grupos de pessoas da qual a Bíblia fala com respeito a nomes arrolados no livro da vida. A primeira diz respeito aos eleitos, assim lemos as seguintes passagens das Escrituras:

“Contudo, não vos alegreis porque se vos submetem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus.” (Lc 10.20)

“E peço também a ti, meu verdadeiro companheiro, que as ajudes, porque trabalharam comigo no evangelho, e com Clemente, e com os outros meus cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida.” (Fp 4.3)

No segundo grupo a Bíblia fala daqueles “cujos nomes não foram escritos no livro da vida do Cordeiro” (Ap 13.8)

7. Inúmeras referências nas Escrituras descrevem a decisão divina a respeito dos não eleitos, a qual passo a demonstrar a baixo.

“E adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.” (Ap 13.8)
· “E que direis, se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição”. (Rm 9.22)

“Porque se introduziram furtivamente certos homens, que já desde há muito estavam destinados para este juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.” (Jd v.4)

“E: Como uma pedra de tropeço e rocha de escândalo; porque tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados. (1 Pd 2.8)

“Pois quê? O que Israel busca isso não o alcançou; mas os eleitos alcançaram; e os outros foram endurecidos”. (Rm 11.7). Observe a conclusão clara do apóstolo. Há dois grupos aqui, “os eleitos”, e “os outros”. Também há aqui dois resultados: os eleitos “alcançaram”. Os outros foram “endurecidos”. Isso é reprovação.

8. Quando Paulo pregou em Filipos para um grupo de mulheres, somente Lídia se converteu. E a Bíblia diz por que Lídia se converteu. Atos 16.14: “E certa mulher chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que temia a Deus, nos escutava e o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia”. Todas as mulheres ouviram a chamada geral do Evangelho, mas somente Lídia recebeu a chamada eficaz. É o mesmo caso de Atos 13.48: “Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna.” Ora, se é Deus quem abre o coração para entender à Palavra, se crê os que são destinados para a vida eterna, e ele não fazem isso com todos, logo se segue que há uma reprovação de certo grupo de pessoas, mesmo elas ouvindo o evangelho, pela chamada geral. Isso confirma as palavras de Jesus: “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt 22.14).

9. A Bíblia dá testemunho de pessoas cujos corações Deus endureceram: Um exemplo clássico deste endurecimento de coração é Faraó. Vejamos o que a Bíblia nos informa sobre este caso.

9.1. O endurecimento de Faraó:
Ø “Eu, porém, endurecerei o coração de Faraó e multiplicarei na terra do Egito os meus sinais e as minhas maravilhas.” (Ex 7.3)
Neste texto temos uma afirmação de Deus, que ele endureceu o coração de Faraó. Mas isso não quer dizer que Deus foi à causa eficiente do endurecimento do coração dele, mas que Deus o entregou à perversão de seu próprio coração. Pois lemos em Êxodo 8.15: “Mas vendo Faraó que havia descanso, endureceu o seu coração, e não os ouviu como o Senhor tinha dito.” O endurecimento do coração de Faraó foi um ato de misericórdia de Deus. Cada vez que vinha uma praga, ele confessava “pequei” (Ex 9.27). Mas tão logo a praga era retirada, Faraó endurecia o coração. Deus poderia e somente Ele poderia abrandar aquele coração, mas Deus não fez. Ele recusou conceder-lhe sua graça regeneradora, e Deus tinha todo direito de proceder assim. Primeiro porque Faraó antes da intervenção miraculosa de Deus no Egito, ele já era um pecador, portanto merecedor da ira de Deus. Segundo, porque graça é favor imerecido, ninguém merece, ou fez por merecer. É favor de Deus e Ele a dá a quem quiser. “Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum. Porque diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia.”. (Rm 9.14-16)

9.2. Os filhos de Eli: “Todavia eles não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria destruir.” (1 Sm 2.25). A atitude de Deus foi de todo negativa para eles. Deus decidiu não secundar o conselho do pai com a operação eficaz de sua graça, e o fez com um fim determinado: “os queria destruir”.

9.3. O caso dos gentios de Romanos 1.28: “E assim como eles rejeitaram o conhecimento de Deus, Deus, por sua vez, os entregou a um sentimento depravado, para fazerem coisas que não convêm.” Alguém poderia objetar dizendo que foram entregues porque antes assumiram uma decisão de rejeitar. Não. Eles rejeitaram porque são pecadores. Quem na face da terra não rejeitou ou ainda rejeita o conhecimento de Deus? Somente aqueles que já foram agraciados com a graça regeneradora, ou seja, os eleitos.

“Em todos os reprovados há uma cegueira e endurecimento pertinaz de coração. E quando de alguns deles, como Faraó, se diz que Deus os endureceu, podemos ficar certos que em si mesmos já são dignos de ser entregues a Satanás. Os corações dos ímpios nunca, naturalmente, são endurecidos por influência direta de Deus, - Ele simplesmente permite que alguns cedam aos maus impulsos já existentes em seus corações, de modo que, como resultado da própria escolha deles, torna-se cada vez mais calejados e obstinados”.

10. Justiça da Reprovação: A primeira impressão que temos da doutrina da reprovação é há nela injustiça. Todos perguntam: “Se Deus escolheu uma parte e deixou o restante a perecer, porque ele não escolheu todos?” Suas imediatas conclusões são: “Ele foi injusto para com aqueles que não escolheram”. Paulo refuta esta objeção em sua doutrina da reprovação com as palavras abaixo: “Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum. Porque diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia.”. (Rm 9.14-16)

1). Como a Bíblia apresenta a humanidade: Toda esta doutrina repousa sobre o princípio da precedente doutrina do pecado original e da total incapacidade. Sustentamos o seguinte:

1. Que Deus criou o homem originalmente à sua própria imagem e semelhança, em conhecimento, retidão e santidade, imortais e investidos do domínio sobre as criaturas, dotado de perfeita liberdade da vontade, possuindo espontaneidade e capacidade de autodeterminação, com poder de escolher o bem e o mal, e de assim determinar seu próprio caráter;
2. Adão pecou voluntariamente, sob a tentação do Diabo, e assim caiu do estado em que fora criado;
3. Que a conseqüência deste pecado sobre Adão foi à corrupção de toda a sua natureza, de sorte que ele tornou-se espiritualmente morto, e por isso mesmo indisposto, incapacitado e oposto a todo o bem espiritual. Além desta morte ele se fez mortal e passível de todas as misérias desta vida e da morte eterna;
4. Devido à união entre Adão e seus descendentes, as mesmas conseqüências de sua transgressão lhes sobrevieram;
5. Tal inerente e hereditária depravação são verdadeira e propriamente da natureza do pecado;
6. Que a regeneração, ou a vocação eficaz, é uma ação supranatural do Espírito Santo, no qual a alma é o sujeito e não o agente; que é soberana, concedida ou retida segundo o beneplácito de Deus, fazendo assim a salvação ser um dom gratuito de Deus.

Paulo nos faz silenciar diante de nossa culpa: “Que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus” (Rm 3.19).


2). A eleição e a reprovação procedem de fundamentos diferentes: A primeira procede da graça de Deus, a segunda, do pecado do homem. O fato de Deus escolher salvar alguém independentemente de seu caráter e demérito, não significa que ele escolhe condenar pessoas a despeito do caráter ou merecimentos delas. A base da eleição é a graça. A base da reprovação é o pecado. Agostinho faz o seguinte comentário sobre este assunto: “A condenação cabe aos ímpios por uma questão de dívida, justiça, e merecimento, ao passo que a graça, concedida aos que são libertos, é livre e não merecida, de modo que o pecador condenado não pode alegar que não merece esse castigo, nem o piedoso pode gabar-se ou vangloriar-se, como se fora digno de sua recompensa.”


11. A razão da Reprovação: Paulo, terminando sua exposição sobre este assunto exclamou: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor? ou quem se fez seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.” (Rm 11.33-36). Isso significa que Deus não nos dá a conhecer as razões pelas quais decidiu reprovar uma parte do gênero humano, não a contemplando, para que pereça em seus pecados. Sabemos que ele escolheu uns e reprovaram outros. Ele deve ter tido boa e justa razão que não revelou, mas que um dia compreenderemos. Mas pelo pouco que conhecemos de Deus, podemos ter uma vaga idéia da razão pela qual existem estas duas doutrinas: a eleição e a reprovação. A primeira pode ser para dar a conhecer da sua misericórdia, a segunda, para dar a conhecer da sua justiça. Se todos os membros da raça humana se salvassem, não saberíamos apreciar o valor de nossa salvação. Pois não haveria um contraste para medí-la. Pelo contraste de nossa glória e bem-aventurança com a vergonha e a condenação dos perdidos, compreendemos melhor a grandeza da nossa salvação. Além disso, no julgamento dos condenados veremos a santidade e a justiça de Deus. E a condenação deles redundará no louvor da justiça de Deus, enquanto que a salvação dos eleitos resultará no louvor de sua graça.

ELEIÇÃO: O LADO POSITIVO DA PREDESTINAÇÃO

1. ELEIÇÃO: “A Eleição se refere ao decreto divino de escolher, dentre a humanidade condenada, certos indivíduos para serem beneficiários do Dom gratuito da salvação. Deus fez isso sem referência aos méritos, ao estado da vontade, ou a fé prevista dos eleitos.” (3)

1.1.A importância da Eleição: A Eleição é como uma luz que ilumina o significado da palavra "graça". Sem ela, a graça é entendida como a recompensa por alguma atividade ou disposição humana, e não como a causa desta disposição. Se a definição correta da palavra "graça" é "um favor imerecido", então a graça tem que ser independente de qualquer atividade humana. No momento em que aceitamos este conceito, entendemos porque a graça e a eleição são inseparáveis. Não é lógico proclamar a doutrina da salvação pela graça enquanto negamos que a Eleição o seja. Paulo expressou esta unidade com estas palavras: "Assim pois também agora, no tempo de hoje sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça.”(Rm 11:5)1.2. A Bíblia fala de diferentes tipos de eleição: Vejamos alguns:

1. Eleição para serviço ou testemunho: Deus elege certas pessoas ou nação, como no caso de Israel, para serem suas testemunhas diante dos homens dando a eles oportunidade de conhecer ao Senhor e serem nele abençoados. No caso de Abraão e sua posteridade há pelo menos três razões desta escolha : 1).Manter acessa uma luz de conhecimento do verdadeiro Deus no mundo. Se não fora Israel este conhecimento teria desaparecido da terra. (2).Deus queria se revelar ao mundo por meio de Israel. Este povo foi o depositário dos “oráculos de Deus” (Rm 3.1,2). (3).Deus quis por meio deles enviar o Salvador ao mundo. “A salvação vem dos judeus”, disse Jesus (Jo 4.22).

2. Eleição de nações e comunidades para o conhecimento e para os privilégios do Evangelho: Este tipo de eleição tem sido chamado de “Eleição Nacional”. Tal eleição pode ser exemplificada na nação judaica, no passado, e em certas nações européias, assim como na América, na era cristã. É inegável que Deus concedeu privilégios a Israel, que não concedeu a nenhuma outra nação no passado, bem como é inegável que Deus, durante a era Cristã tem, dado oportunidades a certas nações que recusou a outras. Quando o Espírito Santo impediu Paulo de anunciar o evangelho na Ásia e teve a visão de um homem da Europa, uma parte do mundo foi soberanamente excluída do anúncio do evangelho, e outra parte soberanamente foi dada os privilégios do evangelho (At 16.6-10). Samuel Falcão em seu livro “Predestinação”, citando o Dr. Boettner, escreve: “A disparidade relativamente aos privilégios espirituais nas diferentes nações só se deve atribuir ao beneplácito de Deus”(4).

3. Eleição para serviço no sentido mais geral: Há certas pessoas a quem Deus dá talentos especiais e coloca em posições de grandes responsabilidade. Por exemplo, os magistrados (Rm 13.1-7), de acordo com Paulo eles são eleitos por Deus para exercerem autoridade no interesse coletivo. Deus tem um plano para cada ser humano e de acordo com este plano ele dá talentos especiais ou inclinações, que os capacitam para sua vocação especial. Todavia ninguém pode reclamar com Deus, como escreve Paulo: “Quem és tu ó homem ,para discutires com Deus? Porventura pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?” (Rm 9.20).

4. Eleição para a Salvação: Esta é a mais importante de todas. Ela é ensinada tanto no Velho como no Novo Testamento. Neste caso pode-se dizer que a eleição é o propósito de Deus, de salvar certos membros da raça humana, em Jesus Cristo e por meio de Jesus Cristo.

1.3. As características da Eleição:

1. É uma expressão da vontade soberana de Deus, do beneplácito divino: Isso exclui a idéia de que a eleição é determinada por alguma coisa existente no homem, como a fé ou as boas obras previstas.

· “(pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama.” (Rm 9.11)

2. É imutável e, portanto torna segura e certa a salvação dos eleitos: Pela obra salvadora em Jesus Cristo, Deus executa o decreto da eleição com a sua própria eficiência. Como é de seu propósito que certos indivíduos creiam e perseveram até o fim, Deus mesmo assegura este resultado pela obra objetiva de Cristo e pelas operações subjetivas do Espírito Santo.

· “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou.” (Rm 8.29,30)

· “Todavia o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os seus, e: Aparte-se da injustiça todo aquele que profere o nome do Senhor.” ( 2 Tm 2.19)

3. É eterna: “Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo” (Ef 1.4).Outras referências tais como Mt 25.34; Rm 8.29; Ef 1.5,9;2 Tm 1.9; Ap 13.8, ensinam explicitamente que a eleição não ocorre no tempo, mas na eternidade. A eleição jamais deve ser identificada com alguma seleção temporal, mas, antes, deve ser considerada eterna.

4. A eleição é incondicional: O ponto de vista que a eleição teve lugar na eternidade, mas que foi tendo em vista o arrependimento previsto e fé carece de apoio das Escrituras. De acordo com este ponto de vista, Deus, na eternidade, olhou através dos séculos e viu quem ia se arrepender e crer, e estes que Ele viu de antemão foram eleitos para a salvação. Este ponto de vista está correto só em um ponto, que é: a eleição teve lugar na eternidade. Mas está errado quando faz a base da eleição ser algo no pecador, em vez de alguma coisa em Deus. Leia Efésios 1:4-6, onde diz que a eleição e predestinação são "segundo o beneplácito de Sua vontade" e "para louvor e glória de Sua graça". Desde que os homens são todos pecadores e perderam o direito às bênçãos de Deus, não há base para esta distinção neles. Tanto a fé como as boas obras na vida do crente, são frutos da graça de Deus. Leiamos a Bíblia:

· “(pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama.” (Rm 9.11)

· “Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna.” (At 13.48)

1. É irresistível: Sobre este ponto fica mais claro falar sobre o que não estamos dizendo. A eleição é irresistível em que sentido ?
1. Não significa que o homem não possa opor-se à sua execução até certo ponto. Os que se dizem salvos hoje, não aceitaram o Evangelho no primeiro apelo que lhe fizeram, resistiram por um certo ponto.
2. Não significa que Deus na execução de seu decreto, subjuga a vontade humana de tal modo que este indivíduo não saiba da decisão que está tomando. Os salvos resistiram até certo ponto, mas houve um momento em que sentiram como Daniel, “tocados pela mão de Deus”.
3. Significa sim que por mais que o homem resista, sua oposição não prevalecerá contra o propósito de Deus.
4. Também significa, que Deus exerce e exercerá tal influência sobre o espírito humano, que o levará a querer o que Deus quer. Isso está de acordo com as Escrituras a abaixo.
· “O teu povo apresentar-se-á voluntariamente no dia do teu poder, em trajes santos; como vindo do próprio seio da alva, será o orvalho da tua mocidade.” (Sl 110.3)

· “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade”.(Fp 2.13)

6. A eleição não merece a acusação de injustiça: Esta é uma das objeções mais comum nesta doutrina. Mas o fato de Deus escolher alguns e os demais são deixados em seu pecado, agindo para sua própria e justa condenação, não pode pesar a culpa de injustiça por parte de Deus. Só podemos falar de injustiça quando uma parte pode reivindicar algo de outra. O pecador não tem direito a salvação e ao perdão de Deus. Ao pecar ele perdeu o direito às bênçãos de Deus. Como o homem não tem direito a salvação, mas a morte, Deus não tem a obrigação de salvar este homem. Logo o que este homem pode exigir de Deus? Nada. Se Deus devesse salvação e perdão a este homem, seria injustiça Deus salvar apenas alguns. Portanto salvação não é questão de justiça, mas de misericórdia. Pelo menos é isso que Paulo entendia. Veja:
“Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum. Porque diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia.”. (Rm 9.14-16)


1.4. O propósito da eleição: Existe um duplo propósito na eleição. Sendo:
1. O propósito próximo é a salvação dos eleitos: A Bíblia ensina que o homem é escolhido, ou eleito para a salvação.
Ø “Pois quê? O que Israel busca, isso não o alcançou; mas os eleitos alcançaram; e os outros foram endurecidos, como está escrito: Deus lhes deu um espírito entorpecido, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem, até o dia de hoje. E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, e em tropeço, e em retribuição; escureçam-se-lhes os olhos para não verem, e tu encurva-lhes sempre as costas. Logo, pergunto: Porventura tropeçaram de modo que caíssem? De maneira nenhuma, antes pelo seu tropeço veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação.”(Rm 11.6-11)

Ø “Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos, amados do Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a santificação do espírito e a fé na verdade.” (2 Ts 2.13)

2. O objetivo final é a glória de Deus: Tudo o que Deus faz, ele o faz para a sua glória.

Ø “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para o louvor da glória da sua graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado.” (Ef 1.3-6)

Fica evidente que o eleito, é eleito para a salvação e esta salvação resulta na glória de Deus.

O AUTOR E OS OBJETOS DA PREDESTINAÇÃO

1. Autor: O decreto da predestinação é “um ato concomitante das três pessoas da Trindade, que são uma só em seu conselho e sua vontade. Mas na economia da salvação, como nos é revelada na Escritura, o ato soberano de predestinação é atribuído mais particularmente ao Pai”.(1) Observe os textos a baixo:


Ø “ Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste. Eram teus, e tu mos deste; e guardaram a tua palavra...Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me tens dado, porque são teus”. (Jo 17.6,9)

Ø “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. (Rm 8.29)

Ø “(pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama),.. foi-lhe dito: O maior servirá o menor... Como está escrito: Amei a Jacó, e aborreci a Esaú.” (Rm 9.11-13)


Ø “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor”. (Ef 1.4)

Ø “E nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade...nele, digo, no qual também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade.” (Ef 1.5,11)

Ø “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.” (1 Pd 1.2)


2. Os objetos: O decreto da predestinação inclui todas as criaturas racionais. Sendo: Todos os homens, bons e maus; Os anjos, bons e maus e Cristo como Mediador. Vamos analisar por parte:

2.1. Todos os homens, bons e maus: Esta predestinação nos é ensinada nas Escrituras, não apenas como grupos, mas também como indivíduos. Os textos a baixos nos leva a esta conclusão. ( At 4.28; Rm 8.29,30: 9.11-13: Ef 1.5,11)

2.2. Todos os anjos, bons e maus: Temos menção na Bíblia de anjos santos (Mc 8.38; Lc 9.26), de anjos ímpios, que não conservaram o seu estado original (2 Pd 2.4: Jd 6), mas também faz menção de anjos eleitos em 1 Tm 5.21: “Conjuro-te diante de Deus, e de Cristo Jesus, e dos anjos eleitos, que sem prevenção guardes estas coisas, nada fazendo com parcialidade.” Como podemos conceber a predestinação dos anjos ? Os Batistas deste 1689 já criam na predestinação tanto dos homens, quanto dos anjos. Na Confissão Batista de Londres lemos: “Pelo decreto, e para manifestação da glória de Deus, alguns homens e alguns anjos são predestinados (ou preordenados) para a vida eterna através de Jesus Cristo,7 para louvor da sua graça gloriosa.8 Os demais são deixados em seu pecado, agindo para sua própria e justa condenação; e isto para louvor da justiça gloriosa de Deus. Os anjos e homens predestinados (ou preordenados) estão designados de forma particular e imutável, e o seu número é tão certo e definido que não pode ser aumentado ou diminuído.” (2)
A). O que vem significar esta predestinação dos anjos ?
1. Para alguns, significa simplesmente que Deus determinou de modo geral que os anjos que permanecessem santos seriam confirmados num estado de bem-aventurança, ao passo que os demais estariam perdidos. Tal idéia não harmoniza com a visão bíblica da predestinação.
2. A verdade é que Deus, decretou dar a um certo número de anjos, uma grande capacidade para permanecerem santos, uma graça especial da perseverança; e privar desta graça os demais.

B). A diferença da predestinação dos homens e dos anjos: Quanto a predestinação dos homens, Deus escolheu certo números de homens dentre a multidão dos caídos. Enquanto que na predestinação dos anjos, Deus não esperou a queda deles para depois escolher os eleitos. Também os homens foram eleitos ou predestinados tendo Cristo como Mediador, ao passo que os anjos foram eleitos ou predestinados tendo Cristo como Chefe, isto é, para estarem em relação ministerial com ele.

2.3. Cristo predestinado como Mediador: Ele é objeto da predestinação nos seguintes sentidos:

A). Havia um amor especial do Pai, distinto do seu amor usual ao Filho, desde toda eternidade.

· “Qual, na verdade, foi conhecido ainda antes da fundação do mundo, mas manifesto no fim dos tempos por amor de vós.” ( 1 Pd 1.20)

· “e, chegando-vos para ele, pedra viva, rejeitada, na verdade, pelos homens, mas, para com Deus eleita e preciosa.” ( 1 Pd 2.4)

B). Ele como Mediador era objeto do beneplácito de Deus. ( Leia 1 Pd 2.4)

C). Ainda como Mediador ele foi adornado coma imagem especial de Deus, à qual os crentes devem conformar-se.

· “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. (Rm 8.29)

D). O reino em toda a sua glória foram ordenados a Ele, para que ele os passe aos crentes.

· “E assim como meu Pai me conferiu domínio, eu vo-lo confiro a vós.” ( Lc 22.29)

UMA BREVE EXPOSIÇÃO BÍBLICA DA DOUTRINA DA PREDESTINAÇÃO(2)

(3). Termos bíblicos para a predestinação - Vamos considerar os seguintes termos:

3.1. A palavra hebraica “yada” – Pode significar:
1. “conhecer”
2. “tomar conhecimento” de alguém ou de alguma coisa.
3. “tomar conhecimento de alguém com cuidado amoroso,
4. “fazer de alguém objeto de amoroso cuidado ou de amor eletivo.

Este é o sentido que aparece nos textos a baixos:
Ø “Porque eu o tenho escolhido, a fim de que ele ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para praticarem retidão e justiça; a fim de que o Senhor faça vir sobre Abraão o que a respeito dele tem falado.” (Gn 18.19)

Ø “De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido; portanto eu vos punirei por todas as vossas iniqüidades.” (Am 3.2)

Ø “Eu te conheci no deserto, em terra muito seca.” (Os 13.5)

3.2. As palavras gregas “ proginoskein” e “prognosis” – O sentido destas palavras no NT não são definidos pelo uso delas no grego clássico, mas pelo sentido especial de “yada”. Elas não indicam simples previsão ou presciência intelectual, nem mera obtenção de conhecimento de alguma coisa de antemão, mas conhecimento seletivo que toma em consideração alguém favorecendo-o, e o faz objeto de amor, aproxima-se da idéia de predeterminação. Este é o sentido das passagens a baixo:

Ø “A este, que foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, vós matastes, crucificando-o pelas mãos de iníquos.” (At 2.23)

Ø “Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho predeterminaram que se fizesse”. (At 4.28)

Ø “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. (Rm 8.29)

Ø “Deus não rejeitou ao seu povo que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como ele fala a Deus contra Israel, dizendo”.(Rm 11.2)

Ø “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.” (1 Pd 1.2)

Estas passagens perdem seu significado, se as palavras forem entendidas apenas no sentido de conhecer alguém antecipadamente, pois neste sentido Deus conhecem todos os homens. Este conhecimento prévio inclui a certeza absoluta desse estado futuro, e por esta razão chega bem perto da idéia da predestinação. Em I Pedro 1:2 a palavra para "presciência" é a mesma para "conhecido" no vigésimo versículo do mesmo capítulo, onde o significado não pode ser "conhecimento" sobre Cristo. O conhecimento de Deus sobre as pessoas não tem limites, ao passo que Seu conhecimento de pessoas é limitado aos que são realmente salvos e glorificados.

3.3. A palavra grega “eklegethai” e “ekloge” – Muitos pensam que esta palavra incluem a penas a idéia de um chamamento para dado privilégio, ou a idéia do chamamento para a salvação, mas seu sentido não esgota nisto. A ênfase destas palavras recai no elemento de:
1. escolha ou seleção mediante o decreto de Deus, concernente ao destino eterno dos pecadores;
2. escolha acompanhada por beneplácito;
3. escolha de Deus de certo número de membros da raça humana colocando-os numa relação especial com Ele;
4. chamamento para dado privilégio;
5. chamamento para a salvação;
6. refere-se a uma eleição anterior e eterna.

Vejamos os textos a baixo:

Ø “(pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama)”. (Rm 9.11)

Ø “Assim, pois, também no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça.” ( Rm 11.5)

Ø “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor”. (Ef 1.4)

Ø “Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos, amados do Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a santificação do espírito e a fé na verdade.” ( 2 Ts 2.13)


3.4. As palavras gregas “proorizein” e “proorismos” – Estas palavras se referem à predestinação incondicional, ou absoluta. Elas se referem a predeterminação do homem para certo fim, e de acordo com a bíblia, o fim pode ser bom ou mau (veja At 4.28; Ef 1.5). Contudo , o fim a que se refere não é necessariamente o fim último, é um fim dentro do tempo, o qual por sua vez, é um meio para o fim último. Vejamos os textos a baixo:

Ø “Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho predeterminaram que se fizesse”. (At 4.28)

Ø “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. (Rm 8.29)

Ø “Mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, que esteve oculta, a qual Deus preordenou antes dos séculos para nossa glória.” ( 1 Co 2.7)

Ø “E nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade...nele, digo, no qual também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade.” (Ef 1.5,11)

3.5. As palavras gregas “protithenai” e “prothesis” – A idéia nestes vocábulos é que Deus põe diante de si um plano definido. Refere-se ao propósito de Deus, de predestinar certos homens para a salvação. Estas palavras aparecem nos textos a baixos:


Ø “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. (Rm 8.29)

Ø “(pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama)”. (Rm 9.11)

Ø “fazendo-nos conhecer o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que nele propôs.” (Ef 1.9)

Ø “nele, digo, no qual também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade.”(Ef 1.11)

Ø “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos.” (2 Tm 1.9)

UMA BREVE EXPOSIÇÃO BÍBLICA DA DOUTRINA DA PREDESTINAÇÃO(1)

O trabalho que se segue é apenas um pequeno degrau para aqueles que desejam ter uma breve introdução sobre esta doutrina tão temerosa em nosso meio. Quase não se menciona nem a palavra nem a doutrina da predestinação em nossas igrejas. Uns porque acham isso doutrina de Presbiterianos, e nós, afinal somos batistas; outros por entender que esta doutrina e por demais misteriosa ou controvertida, que só produzirá confusão nas mentes dos crentes. E outros porque tem preconceito, ou não desejam ler a Bíblia sobre este tema. A mim, isso me parece um grande desperdício. Não conhecer esta doutrina é não ouvir aqueles segredos que Deus conta para os mais “chegados”, não que eu seja tão ‘chegado’ e vocês a redil, nada disso. Mas me definiria neste ponto como um “esforçado”, para provar deste néctar maravilhoso das Escrituras. Espero poder contribuir ao menos para despertar algumas dúvidas em meus leitores e/ou ouvintes, e quem sabe uma boa e calorosa discussão teológica em nosso meio.
O título deste trabalho é modesto, como modesta é a apresentação: “Uma breve exposição bíblica da doutrina da predestinação”. Não aprofundo na discussão teológica, desejo apenas apresentar a Bíblia e o que ela ensina sobre o assunto. Primeiramente precisamos certificar que esta doutrina está na Bíblia, uma vez fundamentada nas Escrituras, poderemos discutí-la nos termos da teologia.
A doutrina da predestinação faz parte dos decretos de Deus. Por isso é que as vezes na Teologia a palavra “predestinação” é empregada como sinônimo da palavra geral “decreto”. Quando passamos a tratar estritamente de predestinação, continuamos tratando dos decretos, porém, passamos do geral para o particular.

(1). Definição: 1. “decreto”. Neste caso vale ressaltar que a doutrina da predestinação faz parte dos decretos de Deus. Por isso é que as vezes na Teologia a palavra “predestinação” é empregada como sinônimo da palavra geral “decreto”. Quando passamos a tratar estritamente de predestinação, continuamos tratando dos decretos, porém, passamos do geral para o particular.
2. “O propósito de Deus com respeito a todas as Suas criaturas morais”
3. “O conselho de Deus concernente aos homens decaídos, incluindo a eleição soberana de uns e a justa reprovação dos restantes”
4. “Determinar previamente as fronteiras, predestinar”

(2). A doutrina da predestinação na história: Até os dias de Agostinho a doutrina da predestinação não era um assunto considerado importante na discussão teológica.

2.1. Os primeiros pais da igreja falam dela, porém faz-nos pensar que não tinham uma concepção clara do assunto. E eles a consideram como sendo a presciência de Deus com referência aos atos dos homens, baseado no qual Deus determina o destino futuro do homem.

2.2. Pelágio, não admitia uma predestinação absoluta, mas uma predestinação condicional, baseada na presciência de Deus sobre os atos dos homens.

2.3. Agostinho, a princípio pensava na predestinação condicional, porém uma reflexão mais profunda sobre o caráter soberano de Deus levou-o a ver que a predestinação não dependia da presciência de Deus sobre os atos humanos. Contudo ensinava a dupla predestinação: para a vida e para a morte. A primeira é um ato puramente soberano de Deus, neste caso os eleitos são objetos da predestinação, ao passo que a predestinação para a morte ela é judicial e leva em conta o pecado do homem, e os reprovados são os objetos da presciência.

2.4. Os semipelagianos, embora admitindo a necessidade da graça divina para a salvação, reafirmaram a doutrina da predestinação baseada na presciência.. Silenciaram a voz dos agostinianos e passaram a dominar principalmente entre os líderes da igreja.

2.5. A Igreja Católica Romana admitia a doutrina da predestinação, porém seus mestres sustentavam que Deus queria a salvação de todos os homens, e não apenas dos eleitos. De um lado temos Tomás de Aquino movendo-se na direção do agostinianismo e Molina, seguindo em direção do semipelagianismo. Todavia, Tomás de Aquino não podia desenvolver esta doutrina livremente como fator determinativo em sua teologia.

2.6. No início Lutero e Melanchton aceitava a doutrina da predestinação, mas a convicção que Deus queria que todos os homens fossem salvos levou a enfraquecer a doutrina da predestinação na teologia luterana, passando a adotar uma predestinação condicional.

2.7. Calvino sustentou firmemente a doutrina agostiniana da predestinação, como sendo dupla e absoluta.. Dava ênfase ao fato de que o decreto concernente à entrada do pecado no mundo foi um decreto permissivo, e que o decreto de reprovação foi elaborado de maneira que Deus não seja apontado como o autor do pecado, nem responsável por este de modo nenhum. Todas as confissões reformadas (calvinistas) incorporam esta doutrina.

2.8. Os arminianos investiram contra esta doutrina, suplantando-a pela doutrina da predestinação condicional.

2.9. Schleiermacher, o pai do liberalismo, deu uma formulação inteiramente diversa para a doutrina da predestinação. A religião para ele era um sentimento de dependência absoluta da causalidade própria da ordem natural, que predeterminam todas as decisões e ações humanas, e a predestinação foi identificada com esta predeterminação feita pela natureza ou pela conexão causal que há no universo.

2.10. Na teologia moderna a doutrina da predestinação não encontra apoio real. Ela é ora rejeitada, ora alterada de tal forma que fica irreconhecível. Uns a chamam de determinismo, outros a apresenta como uma predestinação de todos os homens a se conformarem à imagem de Cristo. Para outros ela se reduz a certos privilégios ou ofícios.

2.11. Karl Barth, dirigiu sua atenção à doutrina da predestinação, mas sua elaboração está longe do pensamento de Agostinho e Calvino. Ele se faz ouvir em concordância com os reformadores no que diz respeito a soberana liberdade de Deus em sua eleição, revelação, vocação, e assim por diante. Mas não ensina a predestinação como uma predeterminada separação entre os homens, e descarta o conceito de uma eleição particular. Ele entende que o homem por ser pecador, está reprovado diante de Deus, mas por causa de Cristo ele é escolhido, ou seja do lado humano o homem é sempre reprovado, mas, visto do lado divino, é sempre eleito.

A GRAÇA DE DEUS COMO ATO E EVENTO*

1. DISCUTINDO O MAL ENTENDIMENTO SOBRE A GRAÇA E A IRA DE DEUS

A). A graça de Deus não é sua qualidade, não sua mentalidade válida atemporalmente, e o Evangelho não traz o esclarecimento sobre a essência de Deus desconhecida até agora;

B). Nem tão pouco devemos entender que antes da graça, Deus tivesse sido imaginado erroneamente como irado e que, agora deveria ser concebido como um Deus misericordioso.

C). Pelo contrário, a ira de Deus se revela, hoje como dantes, sobre toda impiedade e injustiça humana (Rm 1.18). A pessoa que não se arrepende é advertida (Rm 2.5,8). Pois justamente fazem parte de Deus, a fidelidade, a veracidade e a justiça, fazer sobrevir a ira (Rm 3.3-6).

D). Deus permanece o juiz, e a fé cristã na graça não consiste da convicção de que não existe ira de Deus, e que não está nos esperando ameaçadoramente um juízo (2 Co 5.10), e sim na convicção de ser salvo da ira de Deus (Rm 5.9; 1 Ts 1.10; 5.9)

2. A IRA DE DEUS COMO UM EVENTO

A). Existe uma concepção errada sobre a ira de Deus, que se baseia na falsa concepção de que a ira de Deus seria uma propriedade, um afeto, uma mentalidade irada.

B). Na verdade a ira de Deus designa um evento, a saber o juízo de Deus. Exemplos:

· Quando se fala da ira de Deus (Rm 1.18), não se está falando de uma comunicação instrutiva, e sim está sendo dito que ela se torna efetiva.
· Quando em Rm 1.18-32 é descrita a ira de Deus, ela é apresentada como aquilo que já acontece de fato no mundo gentílico. Neste texto vemos:
a). O estar entregue aos desejos do coração (v. 24);
b). Ás paixões desonrosas (v.26);
c). Ao entendimento reprovável (v.28)

C). O dia da ira é o dia da revelação do justo juízo de Deus, do juízo que se há de realizar um dia (Rm 2.5). Na maioria dos casos se pensa em juízo vindouro (Rm 9.22), não obstante Rm 13.4, fala do juízo que se realiza permanentemente, através do governo do Estado, e quando os cristão é admoestado à obediência cidadã não somente por causa da ira, mas também por causa do julgamento divino (Rm 2.5).

3. A GRAÇA DE DEUS COMO UM ATO

A). A graça de Deus, não é uma maneira de proceder, para a qual Deus se decidiu agora, e sim um ato único que se torna ativo para todo aquele que a conhece como tal e a reconhece na fé.

B). A graça de Deus é o ato clemente, pela qual os seres humanos são justificados (Rm 3.24);

C). Este ato consiste no fato de que Deus entregou Cristo à morte, e isso como sacrifício expiatório pelos pecados dos seres humanos (Rm 8.22).

D). O evento da graça consiste portanto,

· na ação de Deus, que “entregou” seu Filho “por nós” (Rm 8.22),
· na “obediência” do filho, que “se entregou po mim” (Gl 2.20), e foi “obediente até a morte” (Fp 2.8).
E). Assim como a queda de Adão trouxe a morte para os seres humanos, assim o evento da obediência de Cristo trouxe a vida, e a graça consiste justamente neste evento, que, na medida em que vem em benefício dos seres humanos, também pode ser chamada de dom da graça (Rm 5.15)

F). Podemos acentuar neste evento da graça, ora o ato de Deus ou de ora o ato de Cristo, desde que compreendemos que se trata do mesmo ato, do mesmo presente. Vejamos:

· 2 Co 6.1: “a graça de Deus” – Paulo está falando do ato de Deus, que é ao mesmo tempo ato de Cristo, como era descrito em 2 Co 5.14;
· 1 Co 2.12: “as coisas que Deus nos tem dado gratuitamente” – Paulo designa a ação salvífica de Deus, ele lembra o acontecimento salvífico como o feito de Cristo em 2 Co 8.9, no que, naturalmente, tem em mente tudo o que é dito em Fp 2.6-8
· Gl 2.21: “Não anulo a graça de Deus” - Paulo mostra que o ato da graça de Deus consiste justamente no feito de Cristo descrito em Gl 2.20 “que me amou e se entregou por mim”.

4. A GRAÇA DE DEUS COMO UM EVENTO ESCATOLÓGICO E COMO UM PODER QUE SE OPÕE AO PODER DO PECADO

A). Como evento escatológico decisivo, este ato, como o qual irrompeu o tempo salvífico (2 Co 6.1);

B). Como um poder que se opõe ao poder do pecado e que substitui seu regime (Rm 5.20)

C). O sentido da graça aproxima-se quase do sentido de Espírito. E por isso também a nova situação para a qual foram transportados os crentes que receberam o “pneuma” (Gl 4.6), pode ser designada como graça, como a esfera de domínio do ato divino. Neste sentido:

· O crente é “chamado para a graça” (Gl 1.6);
· E nela adquiriu seu “status” (Rm 5.2);

D). Paulo entendia a graça como um atuar ou agir clemente de Deus, que é percebido pelo ser humano como presente,

· dom do apostolado a ele confiado, pode chamar de graça (Rm 1.5; 12.3; 15.15; 1 Co 3.10; Gl 2.9)
· o agir de Deus nele é pela graça (Gl 2.8; Rm 15.18);
· a prática do dever do amor cristão é uma dádiva de Deus (2 Co 8.1,4; 2 Co 9.8);
· dons especiais que o cristão recebe chama-se dons da graça (Rm 12.6; 1 Co 7.7;
· a poderosa atuação de Deus procede da graça (1 Co 12.6);
· a graça de Deus é que determina a vida do indivíduo ( 1 Co 15.10; 2 Co 1.12; 12.9).

5. A GRAÇA E O AMOR DE DEUS

A). Talvez na expressão “ ágape” haja mais ênfase na mentalidade do amor do que m graça, mas em todo caso, fala-se do amor contanto que ele se mostre no ato, no evento (Rm 5.8)

B). “Ágape” também significa mentalidade de amor, mas fala-se dela na medida em que Deus a “demonstra”, a saber, pelo fato de ter entregue Cristo à morte por nós, neste sentido também deve ser entendido Rm 5.5. Por meio do Espírito Santo se torna certo e efetivo para nós o ato de amor de Deus, que Rm 5.6, havia descrito como ato de Cristo.

C). A pergunta de Rm 8.35: “quem poderá nos separar do amor de Cristo?”, remete ao evento salvífico da morte e da ressurreição de Cristo, mencionado em Rm 8.34, como o qual ele se entregou à morte (Rm 8.35; Gl 2.20). E a unidade do ato de Deus e de Cristo se expressa na locução de que nada nos pode separar do “amor de Deus em Jesus Cristo, nosso Senhor”, isto é, da salvação que Deus realiza por meio de Cristo (Rm 8.39).


*Citação direta de, BULTMANN, Rudolf – Teologia do Novo Testamento – pg. 353 – 358 – Teológica - 2004

TEOLOGIA NA VIDA DOS VOCACIONADOS

Preconceitos contra a Teologia: muitos por não saber o que é Teologia tem citado texto que aparentemente condena a Teologia. Exemplos: “A letra mata”. “Teologia é sabedoria do mundo, e a sabedoria do mundo é diabólica”.

Definição: “Teologia sistemática é qualquer estudo que responda à pergunta “O que a Bíblia como um todo nos ensina hoje” (Wayne Grudem). Se usarmos esta definição veremos que a maioria dos crentes faz teologia. Quando você responde uma pergunta com esta afirmação: “A Bíblia diz”, você está fazendo teologia.

Teologia desorganizada e teologia sistemática: No entanto a maioria dos cristãos leigos fazem teologia, ou fala dela, de maneira desorganizada. A teologia sistemática é aquela que trata de tópicos bíblicos de modo cuidadosamente organizada, afim de garantir que todos os tópicos importantes das Escrituras, mereça nosso cuidadoso estudo, de modo que não seja tiradas conclusões erradas ou uma ênfase desequilibrada em apenas um tópico das Escrituras.

Razões para se estudar a teologia:

1. Não é para aperfeiçoar a Bíblia, mas para cumprir a Grande Comissão de Mateus 28.19-20, precisamente no “ensinando a guardar todas as coisas que eu vos tenho dito”.
2. Para vencer nossas idéias erradas.
3. Para tomar decisões mais acertadas diante dos “ventos de doutrinas”.
4. Para nos ajudar a crescer como cristãos. Quanto mais soubermos sobre Deus e a Sua Palavra, mas vamos confiar nele, mais vamos louvá-lo, mais vamos obedecê-lo.

Como estudar a Teologia:

1. Com oração: A maioria das pessoas acham que estudantes ou professores de teologia não oram. Se a teologia é um simples modo de estudar a Bíblia, temos que fazer como o salmista: “Desvenda os meus olhos, para que contemple as maravilhas da tua lei” (Sl 119.18).
2. Com humildade: Aqueles que estudam teologia vão saber de muitas coisas que o crente comum ignora ou desconhecem totalmente. Por isso o estudante de teologia deve cingir com toda a humildade (1 Pd 5.5). Nossos argumentos teológicos é para abençoar e não humilhar os leigos.
3. Com a razão: Temos capacidade de pensar e usar este raciocínio para tirar as conclusões lógicas do ensino das Escrituras. Mas não poderá haver diferença naquilo que eu penso e o que Deus revela em sua Palavra.
4. Com a ajuda dos outros: Deus colocou “mestres” igreja. E devemos louvar a Deus por estes. Devemos permitir que aqueles que tem este dom de ensinar nos ajudem a esclarecer os sentidos das Escrituras. E um dos meios usado por Deus para tal propósito é o Seminário.

REDESCOBRINDO CRISTO NO CAMINHO DE NOSSA ESPIRITUALIDADE

Em Lucas 24.28-31 lemos: “E chegaram à aldeia para onde iam, e ele fez como quem ia para mais longe.E eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque já é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com eles.
E aconteceu que, estando com eles à mesa, tomando o pão, o abençoou e partiu-o, e lho deu.Abriram-se-lhes então os olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes”

Os discípulos estavam caminhando pelo caminho de Emaús. O que este caminho significa para nós hoje?

O caminho para Emaús significa nossa caminhada espiritual;
Os discípulos representam, eu, você a igreja;
O dia, a tarde, a noite que se aproxima representa a variedade de nossas experiências dentro de nossa espiritualidade.

O CAMINHO DE EMAÚS PARA OS DISCÍPULOS

Os discípulos de Jesus haviam experimentado de sua presença, participaram da comunhão com os apóstolos, viram e ouviram coisas maravilhosas;
Caminharam até a cruz e viram Cristo morrer e com ele morreram seus sonhos, esperanças e projetos;
O sepulcro lacrado, lacrou suas expectativas em relação ao Reino de Deus; para eles terminou a fase das promessas, vitórias e bênção que viram e receberam;
Só lhes restavam agora pegar o caminho de Emaús, que passou a significar:

Uma nova tentativa de viver e encarar a vida. Era uma tentativa de recomeçar;
Um afastamento do lugar da ressurreição;
Um distanciamento do lugar da vida.

O CAMINHO DE EMAÚS PARA CRISTO

Para Cristo este caminho era uma forma, um instrumento para que seus discípulos pudessem redescobri-lo;
Como Cristo lidou com eles nesta caminhada?

Jesus aproximou-se deles (v.15) – Não há caminho suficiente para nos afastar da proximidade de Cristo. Ele sempre fica perto.
Jesus ia com eles (v.15) – Não foi uma aproximação momentânea, um arrepio, uma sensação. Ele passou a caminhar com eles.
Jesus lhes falava (v.25) – Não há afastamento por maior que seja, nem coração endurecido, por mais duro que seja, nem olhos fechados, por mais cerrado que estejam, que resista seu falar. Quando ele fala os corações ardem!
Jesus lhes deu a oportunidade de convidá-lo para entrar (v. 28) – Ele não toca trombeta para dizer que está conosco e que devemos lhe convidar para entrar. Ele usa na maioria das vezes o gesto simples do ‘como que ia para longe’.

A REDESCOBERTA

A redescoberta se dá mediante a iniciativa de Cristo. É ele que se aproxima, caminha conosco, nos fala e nos dá a oportunidade de convidá-lo para entrar e manifestar a sua presença, com o intuito da redescoberta;
A redescoberta nem sempre se dá em lugares previsíveis (templo, culto, retiros, encontros), ele se dá na caminhada, cada um a experimenta a sua maneira;
A redescoberta se dá quando:

Chegamos no final do caminho de Emaús – aquele momento que achamos que não temos mais para onde ir;
Quando nossos pés cansam e nossa alma anela pelo repouso – momento da entrega;
Quando nosso dia se declina e nossa noite se aproxima – tempo em que percebemos que não podemos mas nos guiar pelo caminho, a menos que tenhamos a luz da vida.

Toda redescoberta gera um retorno (eles voltaram pelo mesmo caminho mas com uma nova mentalidade), a caminhada não muda, a mentalidade na caminhada é que muda.
Toda redescoberta gera um desejo de anunciar o que vimos, vemos e ouvimos. O serviço cristão é reativado na vida da igreja que redescobre Cristo em sua caminhada.

EXISTÊNCIA TEOLÓGICA

O que acontece quando a teologia vem até uma pessoa, quando a interpela e nela entra, quando nela toma forma concreta ? Três coisas básicas podem ser identificadas nesta pessoa: admiração, abalo e comprometimento.

I. ADMIRAÇÃO

a) Ao lidar com a teologia podemos:
¨ Perder por um pouco nossa admiração inicial;
¨ Outros não chegaram a admirá-la de forma crescente;
¨ Mas ninguém jamais deixou de admirar a teologia ao lidar com ela;
¨ E se por acaso algum de vós perder a admiração com a teologia, ou venha tornar-se totalmente estranha, então para o seu bem e para o bem da teologia, você deve passar a ocupar-se com outro assunto.

b) A necessidade da admiração na teologia:
¨ Para toda percepção, pesquisa, reflexão e pronunciamento teológico, precisa-se de uma admiração de toda específica;
¨ A admiração pela teologia é que faz que nasça e sempre renasça uma ciência modesta, livre, crítica e, por conseguinte, alegre;
¨ A falta de admiração na teologia transformaria todo o empreendimento numa planta enferma na própria raiz.

c) O poder da admiração na teologia:
¨ A admiração se apodera de uma pessoa quando esta se vê frente a um fenômeno espiritual ou natural com o qual até o momento não se tenha visto ou confrontado;
¨ Mas no contexto teológico esta admiração não é apenas pasmar ou ficar inquerindo o que venha ser o novo, o inusitado, o estranho, o qual o mais cedo ou mais tarde, pelo progresso da ciência, virá a ser conhecido, explicado, tornando-se velho e rotineiro;
¨ O termo “admiração” no contexto teológico é derivado de “miraculum” – milagre. E neste ponto não há outro recurso: quem se envolve com a teologia, se envolve com o milagre, desde o começo até o último passo da sua jornada teológica.
¨ Teologia é necessariamente lógica do milagre. Se ela envergonhar-se deste fato, que é objeto de seu estudo ou se quisesse negar-se a fazer frente aos problemas decorrentes deste fato, ela teria que deixar de ser teologia.

d) Por isso todos nós que estamos lidando com a teologia, seja como teólogo de formação, ou teólogo amador, estamos irremediavelmente envolvido com o milagre:
¨ Com o milagre do filho da viúva de Naim;
¨ O centurião de Cafarnaum;
¨ Com a passagem dos israelitas pelo mar Vermelho, pelo deserto e com o sol que pela ordem de Josué fez parar em Gibeão;
¨ Envolvidos com a realidade do próprio Deus, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó;
¨ Do Pai que, através do Espírito Santo, se revela em seu Filho;
¨ Do Deus que quis ser Deus do ser humano, para que pudesse viver como ser humano de Deus;
¨ E agora que sabemos disso, devemos estar dispostos a subordinar nossa pobre pesquisa, nosso raciocínio, nosso discurso à lógica deste milagre;
¨ Quem tiver olhos para ver haverá de reconhecer já de longe uma pessoa atingida pela teologia e, com isso, pela Palavra de Deus e, por conseguinte, irremediavelmente admirada.

II. ABALO

a) Mas, admiração não é tudo em teologia:
¨ Teologia entendida como empreendimento sério , não poderá se restringir a uma mera admiração de pessoas ou eventos. Não seria apenas o milagre de personalidades religiosas, da vida e do comportamento religiosos, mas sim o próprio milagre de Deus;
¨ Mas, o milagre de Deus, ao gerar admiração, ao transformar a pessoa que com ele se ocupa num sujeito admirado, leva este sujeito a ser uma pessoa abalada.

b) Descrevendo o abalo:
¨ Porque a pessoa não pode mais distanciar-se dela e nem guardá-la mais para si;
¨ O assunto da teologia agora não se limita a inquietá-lo de longe;
¨ Ele a procurou e a achou aonde procurava – na verdade. Ele veio ao encontro dela. Assaltou-a depressa, a atingiu e a prendeu. Apoderou-se dela.
¨ A pessoa foi transladada da platéia para o palco;
¨ Ela já tocou as pontas dos pés nas águas do Jordão, ela precisou e pôde transpô-las, e agora se acha na outra margem, da qual não há retorno;
¨ Você não somente tornou-se uma pessoa admirada, mas sim abalada por seu assunto.

c) Razões deste abalo:
¨ Porque você se acha confrontado com a palavra de Deus pronunciada e percebida na obra de Deus. Palavra esta dirigida à humanidade de todos os tempos e lugares, e com isso a humanidade de seu tempo e de seu lugar, proclamando as grandes soluções, bem como juízo sobre toda a natureza e a corrupção humana.
¨ Porque você se envolveu com a problemática da cristandade:

1. A crise do não-ser da cristandade, mas constantemente resguardado do não-ser;
2. Da desunião da cristandade e do seu anseio de união;
3. De sua obediência, bem como de sua indolência e de seu ativismo vazio;

¨ Porque trata de seu próprio juízo e da graça que te é oferecida; trata de seu cativeiro e da sua libertação; trata-se da sua morte e da sua vida. Enfim, o que está na pauta de suas reflexões, no final das contas, é você mesmo.



III. COMPROMETIMENTO

a) Porque comprometimento:
¨ Deus nos dá algo peculiar, (conhecimento da verdade), mas também nos pede algo peculiar. Ele nos deu algo luminoso e belo, mas também severo. É uma coisa elevadora, mas também assustadora;
¨ Você agora pode o que deve. Mas também deve o que pode. Você pode e deve ser comprometido com o Deus do evangelho.

b) Existência comprometida:
¨ Uma existência comprometida: O abalo do conhecimento, abrange toda a sua existência. Agora você é chamado com uma liberdade específica e chamado para o uso específico desta liberdade. Sua percepção, pesquisa, raciocínio e discurso não foi inventada nem escolhida por si mesmo, mas foi lhe imposta quando você assumiu o tema da teologia. Existe um verdade com a qual você se comprometeu – a bíblia – e você deve entrar em cena com ela.

c) Níveis de comprometimento:

1. Com a unidade da obra e da palavra de Deus - Encontra-se aqui reunidas todas as coisas:
¨ As mais altas e as mais profundas;
¨ As mais sublimes e as mais insignificantes;
¨ As próximas e as longínquas;
¨ As particulares e as universais;
¨ As visíveis e as invisíveis;
¨ Seu escolher e seu repudiar;
¨ Sua misericórdia e seu juízo;
¨ Se agir como criador, reconciliador e redentor;
¨ A boa criatura de Deus, a criatura caída e a criatura renovada à imagem de Deus.
¨ É este olhar atento, essa visão de conjunto, essa percepção que qualificam a cognição teológica.

2. Com o assunto da teologia – o Deus do evangelho em sua obra e em sua palavra, que se relaciona com ser humano, o Criador com a criatura, o Senhor com o servo:
¨ Deus é absolutamente o primeiro, o conhecimento que o tem como objeto só poderá seguir-lhe, só poderá subordinar-se e acomodar-se a Ele;
¨ É ele que antes de mais nada, que o compromete, liberta e chama o teólogo para que dele se aperceba, para que dele se raciocine e fale. Hilário: “Não é Deus que está sujeito ao discurso, mas o discurso está sujeito a Deus”.


Conclusão: O teólogo encontra sua satisfação, torna-se e é uma pessoa satisfeita, que espalha contentamento tanto na comunidade quanto mundo, quando seu conhecimento, segue a estrutura que lhe é dada com o objeto de sua ciência – Deus e as Escrituras. Amém!