quinta-feira, 22 de abril de 2010

O PODER DE ATAR E DESATAR – A INOVAÇÃO ROMANISTA ENTRE OS NOVOS EVANGÉLICOS

Eu tenho ouvido de alguns líderes que não é suficiente que o pecador esteja arrependido, em seu coração, e verdadeiramente se aparte do pecado e vá para Deus; tem de confessar seus pecados aos seus líderes ou mentores espirituais.
Texto tais como João 20.23; Tiago 5.16; Mateus 16.19, são citados para provar tal prática. A doutrina do atar e desatar ou redimir e reter o perdão historicamente está dentro do catolicismo romano. Como o novo evangélico vem suscitando várias práticas pagãs que foram cristianizadas pelo catolicismo romano, não são de se admirar que esta seja uma delas.
O catolicismo romano mantém que o pecador está obrigado a revelar suas ofensas aos pastores da sua Igreja, ou, melhor, a um delegado e autorizado pela Igreja com esse propósito; a manifestar diante dele todos os pecados secretos de sua alma, a expor todas as feridas, e em virtude da autoridade dada por nosso Salvador a ele, a receber de suas mãos, sobre a terra, a sentença do perdão de Deus, que é ratificada no céu. Cristo também deu a Igreja o poder de reter os pecados, ou seja, de reter o perdão ou de retardá-lo até um tempo mais oportuno.
Este é o escopo da doutrina romanista sobre o poder de atar e desatar. É basicamente isso que se propõem os novos evangélicos com esta doutrina.
Quem nunca presenciou alguns pecadores confessando seus pecados à “diretoria” ou pedindo perdão em público?
A nova leva de líderes e mentores espirituais está reivindicando esse novo poder sobre seus fiéis. Eles também assumem a hermenêutica romana quanto ensina a necessidade da confissão aos homens, ou a igreja, e quando mentem ao dizerem que a falta desta confissão retém o perdão de Deus sobre o penitente e oprimem ao dizerem que tal falta abre “brechas” a satanás para agirem sobre as suas vidas.
No templo dos novos evangélicos não tem [ainda] o confessionário, mas o que se faz no confessionário romanista, se faz nos gabinetes pastorais, ou em lugares de reuniões especialmente programada para tal fim.
O que observamos nestes textos é que todo o poder que se concede aos apóstolos (Jo 20.23) é concedido em Mateus 18.18 a todos os cristãos, ou pelo menos, a toda a agremiação de cristãos que constitua uma igreja (v. 15-18). Portanto, esse poder de atar e desatar, qualquer que fosse seu significado, não foi dado exclusivamente aos apóstolos e os seus sucessores, mas também a igreja.
A segunda coisa que se observa nestas passagens é que o poder da Igreja ou dos pastores em atar e desatar, ou remitir ou reter os pecados era simplesmente declarativo. Os apóstolos declaravam as condições para a salvação e a regra de vida prescrita no evangelho e anunciavam a promessa de Deus de que sob tais condições ele perdoaria os pecados aos homens.
Portanto, uma criança pode redimir os pecados com tanta eficácia como o papa, o bispo, os pastores, os “apóstolos”, a diretoria, o conselho, ou a Igreja; porque nem uma nem ou outro pode fazer outra coisa senão declarar as condições do perdão.
Nenhuma pessoa tem mais poder que outra para perdoar pecados. O perdão dos pecados é prerrogativa exclusiva de Deus.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

‘IGREJA’ – A MANIPULAÇÃO DOS DEUSES E DOS HOMENS

Cristo trouxe o Reino de Deus para mais perto da Terra; mas foi mal interpretado, e em lugar do Reino de Deus estabeleceu-se entre nós o reino dos ‘papas’, ‘bispos’, ‘pastores’ e ‘apóstolos’. Credo e ritual passaram a substituir a boa vontade dos homens; em lugar de unidade e paz entre os homens, tais Credos fizeram foi dividir a raça humana. Assim como Cristo em seus dias teve que lutar contra o eclesiasticismo dos fariseus, hoje também nos resta uma luta contra um eclesiasticismo que tem sobrepujado esta concepção de Reino de Deus.
Vivemos uma Igreja de toda sorte de absurdo piedoso, está inculcado em seus altares uma espécie de serviço de cortesania celestial através do qual se pode obter, pela lisonja, o favor do soberano do céu.
Papas, bispos, padres, pastores, ‘apóstolos’ se dão a pervertida missão de enganar os féis prometendo-lhes o favor divino pela compra desde as indulgências medievais até os mais modernos itens de lisonja do todo-poderoso.
É patético observar como são mesquinhos os motivos que estes ‘pregadores’ atribuem à divindade como condições para abençoar seus fiéis. A divindade precisa receber desde o primitivo “melhor bocado”, o “pedaço mais gorduroso” até a capitalista “melhor oferta”, para então conceder seus favores aos pobres mortais mergulhados em sofrimentos.
Mas nesta Igreja não são apenas favores que se compra. A falta de “pagamento” também acarretam ‘cortes’, ‘multas’, ‘juros’ e ‘mora’; todas as taxas são cobradas com castigos na mais exorbitante das escalas.
O Evangelho da boa vontade, do amor fraternal, foi transformado numa religião de prosperidade e poder.
É triste observar que líderes, cuja função é consolar e guiar uma atormentada humanidade com fé, esperança e amor solidário, foi transformado em instrumento de manipulação e opressão teológica.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

IGREJA APOSTÓLICA E IGREJA PÓS-APOSTÓLICA – EM QUAL IGREJA ESTAMOS?

Oscar Cullman divide a Igreja em Igreja apostólica e igreja pós-apostólica, a primeira é aquela que pertence ao momento construtivo (ou da fundação) da história da salvação, ao passo que a segunda é aquela que pertence ao momento da ampliação, ou desenvolvimento quantitativo.

1. Igreja apostólica – A igreja apostólica sofre um desenvolvimento qualitativo, sobretudo na construção da Tradição, que é constituída sob a assistência extraordinária do Espírito Santo e por isso tem valor normativo para qualquer outra tradição futura. Com efeito, o apostolado é uma função que não, poder ser prolongada. Segundo Atos 1.22 o apóstolo é testemunha única, direta da ressurreição, e recebeu uma ordem direta do Cristo encarnado ou ressuscitado. Ele é como aquele que o enviou. Ele não pode transmitir a outros a sua missão absolutamente única. Depois de tê-la cumprido ele deve restituí-la àquele que lha confiou: Cristo. Somente os apóstolos do NT desenvolveram as mesmas funções de Cristo. Eis porque o NT usa as mesmas imagens para os apóstolos usadas também para Cristo: pedra, fundamentos e colunas. Tais imagens nunca servem para designar o bispo. Os apóstolos instituíram bispos e não outros apóstolos, pois não podem legar a outros suas próprias funções, que não podem ser renovadas. Os bispos sucedem os apóstolos, mas não enquanto apóstolos e sim enquanto bispos. O que significa que o apostolado não pertence ao tempo da Igreja, mas ao tempo da encarnação de Cristo. O apostolado consiste em dar testemunho de Cristo. É certo que a Igreja hoje também testemunha de Cristo, mas não se presta ao testemunho direto que caracteriza o testemunho dos apóstolos. O seu testemunho é um testemunho derivado, já que não repousa mais na revelação direta, que foi privilégio do apóstolo-testemunha ocular.

2. Igreja pós-apostólica – A Igreja pós-apostólica desenvolveu a origem eclesiástica e não tem valor normativo para as tradições sucessivas. Neste momento a história da salvação continuada pela igreja tem apenas um desenvolvimento quantitativo. Toda norma desta igreja pós-apostólica é constituída a partir da igreja apostólica, mas o magistério eclesiástico, não pode normatizar além da norma apostólica, haja visto, que não existe, segundo Cullman, magistério eclesiástico com privilégio da infalibilidade. O instrumento pela qual a Igreja pós-apostólica pode certificar-se de sua fidelidade à tradição apostólica e ao kerygma original é a palavra dos apóstolos. “O apóstolo não pode ter sucessores que exerçam o papel de reveladores em seu lugar, mas sim deve continuar ele mesmo cumprir essa função na igreja presente: na Igreja, não através da Igreja, mas através da própria palavra dia tou logou (Jo 17.20), ou seja, através dos seus escritos.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

DEUS ALÉM DA LINGUAGEM DA ESQUINA


“... entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto...” (Mt 6.6)

A busca de Deus é para os que nele crêem a busca do sentido da existência humana. A oração faz parte deste mover do espírito humano para se assegurar e se identificar como ser. Jesus nos convida a “entrar em nosso aposento e fechar a nossa porta”, o motivo desta exigência do Cristo é condenar a busca do sagrado nas movimentadas “esquinas” e a aprovação dos conceitos dos “olhares” dos outros (v.5).

Nosso relacionamento com o sagrado é baseado em “conceituação” adquirido nas ‘esquinas’ das escolas teológicas e aprovado nos ‘olhares’ (o ponto de vista dos outros), talvez seja por isso que nossas experiências espirituais sejam tão parecidas, nossa descoberta de Deus nada mais é do que a constatação daquilo que imaginamos ser Deus. Sua existência é aquilo que nós já temos de conceituação. Por isso que não admitimos ‘Deus’ fora desta conceituação, aliás, para nossa espiritualidade Ele não pode revelar fora desta conceituação aprendida nestas “esquinas”.

Sabedor disso, talvez seja por isso que Cristo nos aconselha a ir para o lugar do silêncio, no lugar aonde não haja porta aberta para as ruas teológicas, ou conceitos ou teorias presentes na sociedade acerca de Deus, pois o sagrado não pode ser capturado nas categorias lógicas das “esquinas”.

O ambiente silencioso é como que numa definição a “destruição” dos conceitos de “esquinas” que tem assolado a pessoa de Deus e impedido o ouvir das boas novas do Evangelho. A Igreja, seus doutores e mestres durante séculos apresentaram respostas e conceitos definitivos ou fechados a respeito de Deus, e ler ou rezar nesta cartilha principalmente nas “esquinas”, trazem honras, aplausos e galardão dos homens e acima de tudo estando aprovado perante o olhar do público traz a sensação da aprovação de Deus, pois é assim que se pensa em nossa “conceituação” do sagrado.

Conhecer e contemplar o Divino no quarto do silêncio, atrás da porta cerrada é se surpreender com a possibilidade de que a reflexão ou a abordagem sobre Deus não precisa trazer um parecer decisivo pronto ou inalterado, ou seja, no pensamento sobre Deus precisa haver abertura para novas possibilidades, para novas experiências.

Nesta busca pelo sagrado no quarto do silêncio vamos entender que em nossas experiências com Deus nem sempre poderemos explicar o sagrado com a linguagem da “esquina”, na qual todos têm acesso.