sábado, 10 de julho de 2010

POR QUE DEUS NOS ABANDONA?

Há cerca de quatro anos minha irmã perdeu seu filho adolescente num acidente de carro, quando cheguei perto dela, ela me perguntou: Por que Deus fez isso comigo? Eu a abracei e respondi: Não sei.
Anos atrás eu tinha ou achava que tinha respostas para todas as perguntas. Tudo era simples, era só abrir a Bíblia ou citar um versículo, e pronto.
Hoje não tenho tantas certezas, mas dúvidas, perguntas e algo mais. Estas dúvidas e perguntas me são benéficas. Com elas leio as Palavras de Cristo, e procuro respostas nela.
Uma das minhas dúvidas é: Por Deus no abandona?
Todos os crentes são unânimes em responder: Deus jamais nos abandona!
Não é isso que ouvimos de Cristo em suas últimas palavras da cruz. Mateus escreveu: “Por volta da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni? O que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (27.45,46)
Toda religião é um esforço de auto-salvação e fuga do sofrimento. O ser humano busca confiar, acreditar, ter fé em algo [nós chamamos este “algo” de Deus], procura escutar, obedecer, submeter-se e sujeitar a esta divindade, com o objetivo de ser salvo, ser resgatado do perigo ou destruição, ser poupado de sofrer, ser preservado do perigo e da destruição. E inevitavelmente, este ‘Filho de Deus’, na pregação dos religiosos, jamais poderá ou será abandonado por seu Deus. Afinal, ele confiou em Deus, declarou ser filho de Deus, e Deus se ver na obrigação de salvá-lo e poupá-lo do sofrimento. (Mt 27.43)
Quando o filho de Deus se vê submetido ao calvário, em meio a escuridão, o desprezo e o escárnio de todos, surge a expectativa dos ‘irmãos’ e do próprio ‘filho’ se Deus lhe quer bem. E a prova deste comprazer de Deus pelo seu ‘filho’ é, se ele o livrar do sofrimento. “Confiou em Deus; pois venha livrá-lo agora, se, de fato, lhe quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus.”
Essa foi a manifestação dos religiosos, e esta também foi a espera indignada daquele ladrão. Porque na mentalidade dos líderes judeus e daquele condenado, aquele que havia sido declarado o Filho de Deus não poderia deixar de resgatar a si mesmo da destruição. Suas concepções eram que o “Filho de Deus” teria que ser:
· Resgatado do perigo e da destruição;
· Poupado do sofrimento;
· Preservado dos males da vida, dentre eles a morte.
O que se prega entre os evangélicos não é nada diferente. Alias esta tem sido o tom da batuta dos regentes da orquestra dos novos evangélicos. “Pare de sofrer!” “Desça da cruz e creremos” e saberemos que tu és um dos nossos.
Eu estou tentado a dizer que Deus pode sim abandonar seu Filho em meio as trevas, dores e gemidos, apesar de seu clamor em “alta voz” (Mt 27.45,46).
Antes de Jesus sentir-se abandonado houve 3 horas de trevas – O filho de Deus passa por constantes trevas, escuridão que muitas das vezes deixa-o sem direção.
Neste ambiente de escuridão, dor e sofrimento nós sentimos impelidos a orar como Jesus e fazer a pergunta: “Por que me abandonaste?”
A palavra “desamparaste” [egkataleipo], é muito forte e significa:

1) abandonar, desertar;
2) deixar em grandes dificuldades, deixar abandonado;
3) totalmente abandonado, completamente desamparado;

Essa foi a sensação que Cristo teve neste momento. Deus o havia abandonado, deixado-o em grande dificuldade, completamente abandonado. Todo filho de Deus passa pela experiência do abandono.
O Deus revelado por Cristo não protege os homens do perigo no “seio materno”, pelo contrário, Ele é capaz de abandonar seu Filho.
Como podemos ler e pregar um Evangelho deste, num ambiente triunfalista, onde o ser humano faz de tudo para evitar o sofrimento, a dor, a perda, o abandono?
O Evangelho é uma resposta a crise do seu humano. É uma resposta a dor, a tribulação, a agonia, a perda, a morte. E esta resposta não é: “Pare de sofrer”! Mas “como” sofrer!
Sim. Como sofrer sem deixar de ser Filho de Deus. Como sentir-se abandonado “sem Deus” no mundo, entretanto ter a certeza de que está na “presença” de Deus. Ter a certeza que ainda que tu me “abandonaste”, ainda sou seu Filho, ainda está se cumprindo em mim a “vontade daquele que me enviou” (Jo 4.35).
Salvação nem sempre é proteção do mal, das dores, do sofrimento humano. Salvação tem o suplício da cruz, diferente daqueles que pregam o Evangelho “da sombra e água fresca”.
Aprendemos com o abandono de Cristo que a ação de Deus nem sempre é para nos tirar do sofrimento, mas para nos fortalecer na hora da dor [às vezes, ele deixa o filho desfalecer também].
Deus permite sim que seu filho seja abandonado por um certo tempo de sua vida. Deus permite sim que seu filho desça a cova, um lugar tipo “fim de linha”, para trazer um amanhecer ressuscitador, e fazer com que os mesmos que te viram descer a cova possam dizer “Ele ressuscitou” (Mt 28.6,7)
O calvário, a escuridão, o abandono, o túmulo é uma realidade na vida do filho de Deus, mas de igual modo é real a ressurreição, a vitória e o acolhimento nos braços do Pai.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O ESCANDÂLO DE ASAFE

ASAFE – O MUNDO É DOS MAIS ESPERTOS!

“Porque não há apertos na sua morte, mas firme está a sua força. Não se acham em trabalhos como outros homens, nem são afligidos como outros homens. Por isso a soberba os cerca como um colar; vestem-se de violência como de adorno. Os olhos deles estão inchados de gordura; eles têm mais do que o coração podia desejar. São corrompidos e tratam maliciosamente de opressão; falam arrogantemente. Põem as suas bocas contra os céus, e as suas línguas andam pela terra. Por isso o povo dele volta aqui, e águas de copo cheio se lhes espremem. E eles dizem: Como o sabe Deus? Há conhecimento no Altíssimo? Eis que estes são ímpios, e prosperam no mundo; aumentam em riquezas.” (Sl 73.4-12)

ASAFE – LOMBO DE JUSTO É PRA AÇOITE!

“Na verdade que em vão tenho purificado o meu coração; e lavei as minhas mãos na inocência. Pois todo o dia tenho sido afligido, e castigado cada manhã. Se eu dissesse: Falarei assim; eis que ofenderia a geração de teus filhos. Quando pensava em entender isto, foi para mim muito doloroso... Assim o meu coração se azedou, e sinto picadas nos meus rins. Assim me embruteci, e nada sabia; fiquei como um animal perante ti.
(Sl 73.13-16, 21,22)

ASAFE – ENTENDER O FIM DOS ÍMPIOS ANTES DO FIM

“Até que entrei no santuário de Deus; então entendi eu o fim deles. Certamente tu os puseste em lugares escorregadios; tu os lanças em destruição. Como caem na desolação, quase num momento! Ficam totalmente consumidos de terrores. Como um sonho, quando se acorda, assim, ó Senhor, quando acordares, desprezarás a aparência deles.” (Sl 73.17-20)

ASAFE – DEUS POR DEUS E NADA MAIS ALÉM DE DEUS

“Quem tenho eu no céu senão a ti? e na terra não há quem eu deseje além de ti. A minha carne e o meu coração desfalecem; mas Deus é a fortaleza do meu coração, e a minha porção para sempre. Todavia estou de contínuo contigo; tu me sustentaste pela minha mão direita. Mas para mim, bom é aproximar-me de Deus; pus a minha confiança no Senhor DEUS, para anunciar todas as tuas obras. Guiar-me-ás com o teu conselho, e depois me receberás na glória.”
(Sl 73. 25, 23, 28,24)
Assim como Asafe também estou escandalizado pela prosperidade dos ímpios e pelo sofrimento dos justos. Mas também consigo ler em Asafe que relacionamento com Deus está além da prosperidade terrena. A paz da amizade divina que nunca decepciona é a proposta de Asafe. Para alguns isso é tudo, para outros é escândalo.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

DEUS – UMA “HIPÓTESE” DESNECESSÁRIA

Quando Laplace encontrou a explicação para os pequenos desvios de Saturno e Júpiter, foi apresentá-la a Napoleão, o imperador lhe perguntou que lugar ocupava Deus em seu sistema. E o cientista respondeu orgulhosamente: “Senhor, não senti falta dessa hipótese”.
Um recente estudo sociológico nos permitiu saber que, as romarias a santuários que se especializavam em doenças hoje controláveis pela medicina viram diminuir o número de seus devotos, enquanto aqueles cujas enfermidades ainda não foram controladas pela medicina, continuam atraindo verdadeiras multidões de romeiros.
A religião primitiva nos dá conta que, para suprir suas carências, o homem sempre precisou lançar mão de um deus grande.
Todas as vezes que esses homens não entendem ou não conseguem fazer algo, eles levantam os olhos para o seu deus.
Freud diz que aos deuses foram atribuídas uma tríplice função para com o homem:
1. Espantar os terrores da natureza;
2. Conciliar o homem com a crueldade do destino;
3. Compensá-lo pelas dores e privações que a vida civilizada em comum lhe impõe.
O homem sempre usou Deus como um tapa-buraco de seu conhecimento imperfeito. Essa idéia de Deus está exatamente naquilo que ignoramos e não naquilo que conhecemos. Deus existe aonde o homem não é. Deus é grande aonde o homem é pequeno. Deus é tudo aonde o homem nada é.
Este conceito de Deus tem enfurecido os humanistas e com razão. Pois esse não é o conceito de Deus revelado em Cristo. O Deus revelado por Cristo não protege os homens do perigo no “seio materno”, pelo contrário Ele é capaz de abandonar seu Filho.
Não podemos continuar pregando o Evangelho com sinceridade sem reconhecer que temos que viver neste mundo “sem” Deus, porém “diante” de Deus. Deus em algum momento de nossa vida nos deixará ir ao “calvário” e lá nos abandonará, nos deixará sozinho, mesmo diante de nossos rogos incessantes. Ele simplesmente não veio. Ele simplesmente não está.
Deus, essa “hipótese” poderosa que intervêem sempre a favor de seus filhos, fazendo sempre o que eles desejam e dando a eles sempre o melhor desta terra, é desnecessária para aqueles que teve acesso à maturidade e reconheceu a sua real situação perante Deus – sem Deus no mundo, porém diante de Deus na mente.