Há cerca de quatro anos minha irmã perdeu seu filho adolescente num acidente de carro, quando cheguei perto dela, ela me perguntou: Por que Deus fez isso comigo? Eu a abracei e respondi: Não sei.
Anos atrás eu tinha ou achava que tinha respostas para todas as perguntas. Tudo era simples, era só abrir a Bíblia ou citar um versículo, e pronto.
Hoje não tenho tantas certezas, mas dúvidas, perguntas e algo mais. Estas dúvidas e perguntas me são benéficas. Com elas leio as Palavras de Cristo, e procuro respostas nela.
Uma das minhas dúvidas é: Por Deus no abandona?
Todos os crentes são unânimes em responder: Deus jamais nos abandona!
Não é isso que ouvimos de Cristo em suas últimas palavras da cruz. Mateus escreveu: “Por volta da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni? O que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (27.45,46)
Toda religião é um esforço de auto-salvação e fuga do sofrimento. O ser humano busca confiar, acreditar, ter fé em algo [nós chamamos este “algo” de Deus], procura escutar, obedecer, submeter-se e sujeitar a esta divindade, com o objetivo de ser salvo, ser resgatado do perigo ou destruição, ser poupado de sofrer, ser preservado do perigo e da destruição. E inevitavelmente, este ‘Filho de Deus’, na pregação dos religiosos, jamais poderá ou será abandonado por seu Deus. Afinal, ele confiou em Deus, declarou ser filho de Deus, e Deus se ver na obrigação de salvá-lo e poupá-lo do sofrimento. (Mt 27.43)
Quando o filho de Deus se vê submetido ao calvário, em meio a escuridão, o desprezo e o escárnio de todos, surge a expectativa dos ‘irmãos’ e do próprio ‘filho’ se Deus lhe quer bem. E a prova deste comprazer de Deus pelo seu ‘filho’ é, se ele o livrar do sofrimento. “Confiou em Deus; pois venha livrá-lo agora, se, de fato, lhe quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus.”
Essa foi a manifestação dos religiosos, e esta também foi a espera indignada daquele ladrão. Porque na mentalidade dos líderes judeus e daquele condenado, aquele que havia sido declarado o Filho de Deus não poderia deixar de resgatar a si mesmo da destruição. Suas concepções eram que o “Filho de Deus” teria que ser:
· Resgatado do perigo e da destruição;
· Poupado do sofrimento;
· Preservado dos males da vida, dentre eles a morte.
O que se prega entre os evangélicos não é nada diferente. Alias esta tem sido o tom da batuta dos regentes da orquestra dos novos evangélicos. “Pare de sofrer!” “Desça da cruz e creremos” e saberemos que tu és um dos nossos.
Eu estou tentado a dizer que Deus pode sim abandonar seu Filho em meio as trevas, dores e gemidos, apesar de seu clamor em “alta voz” (Mt 27.45,46).
Antes de Jesus sentir-se abandonado houve 3 horas de trevas – O filho de Deus passa por constantes trevas, escuridão que muitas das vezes deixa-o sem direção.
Neste ambiente de escuridão, dor e sofrimento nós sentimos impelidos a orar como Jesus e fazer a pergunta: “Por que me abandonaste?”
A palavra “desamparaste” [egkataleipo], é muito forte e significa:
1) abandonar, desertar;
2) deixar em grandes dificuldades, deixar abandonado;
3) totalmente abandonado, completamente desamparado;
Essa foi a sensação que Cristo teve neste momento. Deus o havia abandonado, deixado-o em grande dificuldade, completamente abandonado. Todo filho de Deus passa pela experiência do abandono.
O Deus revelado por Cristo não protege os homens do perigo no “seio materno”, pelo contrário, Ele é capaz de abandonar seu Filho.
Como podemos ler e pregar um Evangelho deste, num ambiente triunfalista, onde o ser humano faz de tudo para evitar o sofrimento, a dor, a perda, o abandono?
O Evangelho é uma resposta a crise do seu humano. É uma resposta a dor, a tribulação, a agonia, a perda, a morte. E esta resposta não é: “Pare de sofrer”! Mas “como” sofrer!
Sim. Como sofrer sem deixar de ser Filho de Deus. Como sentir-se abandonado “sem Deus” no mundo, entretanto ter a certeza de que está na “presença” de Deus. Ter a certeza que ainda que tu me “abandonaste”, ainda sou seu Filho, ainda está se cumprindo em mim a “vontade daquele que me enviou” (Jo 4.35).
Salvação nem sempre é proteção do mal, das dores, do sofrimento humano. Salvação tem o suplício da cruz, diferente daqueles que pregam o Evangelho “da sombra e água fresca”.
Aprendemos com o abandono de Cristo que a ação de Deus nem sempre é para nos tirar do sofrimento, mas para nos fortalecer na hora da dor [às vezes, ele deixa o filho desfalecer também].
Deus permite sim que seu filho seja abandonado por um certo tempo de sua vida. Deus permite sim que seu filho desça a cova, um lugar tipo “fim de linha”, para trazer um amanhecer ressuscitador, e fazer com que os mesmos que te viram descer a cova possam dizer “Ele ressuscitou” (Mt 28.6,7)
O calvário, a escuridão, o abandono, o túmulo é uma realidade na vida do filho de Deus, mas de igual modo é real a ressurreição, a vitória e o acolhimento nos braços do Pai.
Anos atrás eu tinha ou achava que tinha respostas para todas as perguntas. Tudo era simples, era só abrir a Bíblia ou citar um versículo, e pronto.
Hoje não tenho tantas certezas, mas dúvidas, perguntas e algo mais. Estas dúvidas e perguntas me são benéficas. Com elas leio as Palavras de Cristo, e procuro respostas nela.
Uma das minhas dúvidas é: Por Deus no abandona?
Todos os crentes são unânimes em responder: Deus jamais nos abandona!
Não é isso que ouvimos de Cristo em suas últimas palavras da cruz. Mateus escreveu: “Por volta da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni? O que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (27.45,46)
Toda religião é um esforço de auto-salvação e fuga do sofrimento. O ser humano busca confiar, acreditar, ter fé em algo [nós chamamos este “algo” de Deus], procura escutar, obedecer, submeter-se e sujeitar a esta divindade, com o objetivo de ser salvo, ser resgatado do perigo ou destruição, ser poupado de sofrer, ser preservado do perigo e da destruição. E inevitavelmente, este ‘Filho de Deus’, na pregação dos religiosos, jamais poderá ou será abandonado por seu Deus. Afinal, ele confiou em Deus, declarou ser filho de Deus, e Deus se ver na obrigação de salvá-lo e poupá-lo do sofrimento. (Mt 27.43)
Quando o filho de Deus se vê submetido ao calvário, em meio a escuridão, o desprezo e o escárnio de todos, surge a expectativa dos ‘irmãos’ e do próprio ‘filho’ se Deus lhe quer bem. E a prova deste comprazer de Deus pelo seu ‘filho’ é, se ele o livrar do sofrimento. “Confiou em Deus; pois venha livrá-lo agora, se, de fato, lhe quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus.”
Essa foi a manifestação dos religiosos, e esta também foi a espera indignada daquele ladrão. Porque na mentalidade dos líderes judeus e daquele condenado, aquele que havia sido declarado o Filho de Deus não poderia deixar de resgatar a si mesmo da destruição. Suas concepções eram que o “Filho de Deus” teria que ser:
· Resgatado do perigo e da destruição;
· Poupado do sofrimento;
· Preservado dos males da vida, dentre eles a morte.
O que se prega entre os evangélicos não é nada diferente. Alias esta tem sido o tom da batuta dos regentes da orquestra dos novos evangélicos. “Pare de sofrer!” “Desça da cruz e creremos” e saberemos que tu és um dos nossos.
Eu estou tentado a dizer que Deus pode sim abandonar seu Filho em meio as trevas, dores e gemidos, apesar de seu clamor em “alta voz” (Mt 27.45,46).
Antes de Jesus sentir-se abandonado houve 3 horas de trevas – O filho de Deus passa por constantes trevas, escuridão que muitas das vezes deixa-o sem direção.
Neste ambiente de escuridão, dor e sofrimento nós sentimos impelidos a orar como Jesus e fazer a pergunta: “Por que me abandonaste?”
A palavra “desamparaste” [egkataleipo], é muito forte e significa:
1) abandonar, desertar;
2) deixar em grandes dificuldades, deixar abandonado;
3) totalmente abandonado, completamente desamparado;
Essa foi a sensação que Cristo teve neste momento. Deus o havia abandonado, deixado-o em grande dificuldade, completamente abandonado. Todo filho de Deus passa pela experiência do abandono.
O Deus revelado por Cristo não protege os homens do perigo no “seio materno”, pelo contrário, Ele é capaz de abandonar seu Filho.
Como podemos ler e pregar um Evangelho deste, num ambiente triunfalista, onde o ser humano faz de tudo para evitar o sofrimento, a dor, a perda, o abandono?
O Evangelho é uma resposta a crise do seu humano. É uma resposta a dor, a tribulação, a agonia, a perda, a morte. E esta resposta não é: “Pare de sofrer”! Mas “como” sofrer!
Sim. Como sofrer sem deixar de ser Filho de Deus. Como sentir-se abandonado “sem Deus” no mundo, entretanto ter a certeza de que está na “presença” de Deus. Ter a certeza que ainda que tu me “abandonaste”, ainda sou seu Filho, ainda está se cumprindo em mim a “vontade daquele que me enviou” (Jo 4.35).
Salvação nem sempre é proteção do mal, das dores, do sofrimento humano. Salvação tem o suplício da cruz, diferente daqueles que pregam o Evangelho “da sombra e água fresca”.
Aprendemos com o abandono de Cristo que a ação de Deus nem sempre é para nos tirar do sofrimento, mas para nos fortalecer na hora da dor [às vezes, ele deixa o filho desfalecer também].
Deus permite sim que seu filho seja abandonado por um certo tempo de sua vida. Deus permite sim que seu filho desça a cova, um lugar tipo “fim de linha”, para trazer um amanhecer ressuscitador, e fazer com que os mesmos que te viram descer a cova possam dizer “Ele ressuscitou” (Mt 28.6,7)
O calvário, a escuridão, o abandono, o túmulo é uma realidade na vida do filho de Deus, mas de igual modo é real a ressurreição, a vitória e o acolhimento nos braços do Pai.