terça-feira, 16 de dezembro de 2014

UM CONCEITO MAIS ORTODOXO SOBRE O NATAL

Retomando a expressão de João "O Verbo se fez carne" Jo 1.14, a Igreja denomina "Encarnação" o fato de Filho de Deus ter assumido uma natureza humana para realizar nela a nossa salvação. Em um hino atestado por pelo apóstolo Paulo, a Igreja canta o mistério da Encarnação:

“Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus: Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fl 2.5-8).

A fé na Encarnação verdadeira do Filho de Deus é o sinal distintivo da fé cristã: "Nisto reconheceis o Espírito de Deus. Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio na carne é de Deus" (1Jo 4.2).

Esta é a alegre convicção da Igreja desde o seu começo, quando canta "o grande mistério da piedade": "Ele foi manifestado na carne" (1 Tm 3.16).

O nome de Jesus significa que o próprio nome de Deus está presente na pessoa de seu Filho feito homem para a redenção universal e definitiva dos pecados. E o único nome divino que traz a salvação e a partir de agora pode ser invocado por todos, pois se uniu a todos os homens pela Encarnação, de sorte que "não existe debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos" (At 4.12)

Tudo o que Cristo viveu foi para que pudéssemos vivê-lo nele e para que Ele o vivesse em nos. Por sua Encarnação, o Filho de Deus, de certo modo, se uniu a todo homem.

Nós somos chamados a ser uma só coisa com Ele; Ele nos faz partilhar, como membros de seu corpo, de tudo o que (Ele), por nós e como nosso modelo, viveu em sua carne.


Que neste Natal possamos comungar desta comunhão com o Verbo de Deus e que nosso coração esteja preparado para o seu renascimento em nós a cada dia.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

TEORIAS FILOSÓFICAS SOBRE A NATUREZA DO PECADO

1. Dualismo – É aquela teoria que pressupõe a existência de um eterno princípio do mal. Quando o homem foi criado este dualismo entrou na constituição humana. Pecado portanto é um mal físico; a contaminação do espírito por sua união com o corpo material; e deve ser combatido por meios físicos. Daí o ensino da eficácia da abstinência e da austeridade.

2. Negação ou limitação do ser – Segundo esta teoria o ser, a substância, é bom. Deus como a substância absoluta é o bem supremo. Portanto, quanto menos ser, menos bem; e toda negação, ou limitação de ser, é má, ou pecado. Nesta teoria a distinção entre  bem e mal é, portanto, meramente quantitativa, uma distinção entre mais ou menos. O ser é bom; a limitação do ser é má. O pecado é um desenvolvimento imperfeito, ou a mera limitação do ser.

3. Privação -  Esta é a teoria de Leibnitz, que ensina que o pecado é privação e o atribui à necessária limitação do ser. Segundo esta teoria o pecado é inevitável porque emana da necessária limitação da criatura. A criatura não pode ser absolutamente perfeita. Seu conhecimento e poder deve ser limitados. Nunca podemos esperar uma ação absolutamente perfeita de um agente menos que absolutamente perfeito.

4. Antagonismo Necessário – Ensina que toda a vida, implica ação e reação. Inclusive no universo material prevalece a mesma lei, por exemplo, todas as mudanças químicas são produzidas por atração e repulsão. Também é assim no mundo animal não há forças sem obstáculos vencidos; nem descanso sem fadiga; nem vida sem morte. Assim também a mente  se desenvolve através de esforços contínuos, através do conflito constante entre o que está  dentro e o que está fora. A mesma lei deve prevalecer no mundo moral. Não existe bem sem mal. Logo um mundo moral sem pecado é impossível. O pecado é a condição necessária para a existência da virtude.

5. A Teoria Sensorial – Coloca a fonte e a sede do pecado na natureza sensorial do homem. O homem é composto de corpo e espírito. Por meio do corpo ele é conectado ao mundo ou natureza externa; e, por meio da alma, ao mundo espiritual e a Deus, ele tem necessidades, desejos, apetites e afeições que encontram seus objetos no mundo material, e que ele tem outros instintos, afeições e faculdades que encontram seus objetos no mundo espiritual. É auto-evidente que os últimos são mais elevados e devem ser invariavelmente e sempre dominantes. Mas a experiência prova o contrário, os homens sempre preferem o inferior em vez do superior; os homens são governados universalmente, em maior ou menor extensão, e sempre em grau pecaminoso, por sua natureza sensorial ou inferior. Nisto consiste a fonte e a essência do pecado.


6. Pecado consiste em egoísmo – O pecado consiste na indevida preferência de nossa própria felicidade em detrimento da felicidade ou bem-estar dos outros. Neste caso o pecado é a indevida preferência de nós mesmos. 

terça-feira, 15 de abril de 2014

OVOS DE PÁSCOA: UMA DELÍCIA DE 'PECADO'

Muitos séculos antes do nascimento de Cristo, a troca de ovos no Equinócio da Primavera (21 de Março) era um costume que celebrava o fim do Inverno e o início de uma estação marcada pelo florescimento da natureza. Para obterem uma boa colheita, os agricultores enterravam ovos nas terras de cultivo.

Quando a Páscoa cristã começou a ser celebrada, a cultura pagã de festejo da Primavera foi integrada na Semana Santa. Os cristãos passaram a ver no ovo um símbolo da ressurreição de Cristo.

No Oriente colorir e decorar ovos são um costume também bastante antigo, praticado nos países da Europa de Leste, os ortodoxos tornaram-se grandes especialistas em transformar ovos em obras de arte. Da Rússia à Grécia, os ortodoxos costumam pintar os ovos de vermelho. Já na Alemanha, a cor dominante é o verde.
Na Europa Oriental, o hábito passou aos demais países. Eduardo I de Inglaterra oferecia ovos banhados em ouro aos súditos preferidos. Luís XIV de França os mandava pintados e decorados, como presentes.
Os ovos de chocolate vieram dos Pâtissiers franceses que recheavam ovos de galinha, depois de esvaziados de clara e gema, com chocolate e os pintavam por fora. Com melhores tecnologias, a partir do final do século XIX, se difundiram os ovos totalmente feitos de chocolate, utilizados até hoje.
Para os judeus a páscoa significa “passagem”, por isso o nome da festa é Pessach (passagem). De acordo com a tradição judaica, a primeira celebração de Pessach ocorreu há 3500 anos, quando o Senhor enviou dez pragas sobre o povo do Egito. Antes da décima praga, – que seria a morte dos primogênitos das famílias egípcias -  Moisés  foi instruído por Deus a pedir que cada família hebreia sacrificasse um cordeiro e molhasse os umbrais (mezuzót) das portas, para que seus primogênitos não fossem exterminados.
Os primeiros cristãos passaram a comemorar a Páscoa, como conhecemos hoje, porque viram uma relação entre a libertação do povo de Deus no Egito e a libertação da morte para a vida, pregada por Jesus.
E os ovos? A maioria dos novos evangélicos não compram, não comem e excomungam os que comem tais oferendas de deliciosos chocolates. Não o fazem por entenderem que os ovos provêm de uma festa pagã e imaginam que estes ovos estão paganizados ou satanizados. Eu compro, ofereço e como ovos de páscoa. Aprecio pelo chocolate, não pelo dia. Ainda não sabia nada sobre esta tal “deusa Ostera” e já me banqueteava com estes saborosos ovos. Comi e nunca fiquei “doente”, nem virei idólatra, nem neguei a Cristo.
Falta a estes irmãos a leitura de Paulo conforme seus conselhos na 1 Carta aos Coríntios 8, lá encontramos umas afirmações que podem ser usado sobre estes “malditos ovos deliciosos de páscoa”. Veja:
1º). O ídolo não é NADA, ou seja, dizer que ovos de páscoa é alusão a deusa Ostera não me comove, porque Ostera NADA É – “Assim que, quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só”. (v. 4);
2º). O problema não é com os OVOS, mas com a CONSCIÊNCIA – “Mas nem em todos há conhecimento; porque alguns até agora comem, com consciência do ídolo, coisas sacrificadas ao ídolo; e a sua consciência, sendo fraca, fica contaminada.” (v. 7)
3º). Comer ou deixar de comer não INTERFERE NA RELAÇÃO COM DEUS – “Ora a comida não nos faz agradáveis a Deus, porque, se comemos nada temos de mais e, se não comemos, nada nos falta.” (v. 8)
4º). Comer ou deixar de comer depende do respeito para com a consciência fraca do irmão – “Mas vede que essa liberdade não seja de alguma maneira escândalo para os fracos. Porque, se alguém te vir a ti, que tens ciência, sentado à mesa no templo dos ídolos, não será a consciência do que é fraco induzida a comer das coisas sacrificadas aos ídolos? E pela tua ciência perecerá o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu.” (vs 9-11)

Não desmereço os irmãos que tem tamanha fraqueza para com estes festas, nas quais eles não podem nem ouvir falar que arrepiam. Meu conselho é que estes irmãos não só deixam de comer os ovos, mas também que busque conhecer o Evangelho e fuja de tanto misticismo e tanta espiritualidade onde nada mais é do que superstição e ignorância. Se naquela época tal festividade apontava para estes ocultismos agora os dias são outros. O entendimento é outro. Ovos de páscoa não são promovidos por nenhuma religião ocultista. Quem os fabrica, promovem e vendem é o comércio. Este ano o comércio deve aquecer as vendas em 12% a mais com as vendas de ovos de páscoa.

Podemos utilizar sem sermos supersticiosos o símbolo do “ovo” como uma imagem de renovo, de renascimento, de recomeço de vida. Esta mensagem pode ser enfatizada neste período. Bem melhor que ficar condenando e demonizando os deliciosos ovos de chocolate. 

segunda-feira, 31 de março de 2014

QUARESMA: TEMPO DE REGRESSO AO SENHOR

O Tempo da Quaresma é o período do ano litúrgico que antecede a Páscoa cristã, sendo celebrado por algumas igrejas cristãs, dentre as quais a Católica a Ortodoxa  a Anglicana , a Luterana.
A expressão Quaresma é originária do latim, quadragesima dies (quadragésimo dia). Em diversas denominações cristãs, o Ciclo Pascal compreende três tempos: preparação, celebração e prolongamento. A Quaresma insere-se no período de preparação.
Os serviços religiosos desse tempo intentam a preparação da comunidade de fiéis para a celebração da festa pascal, que comemora a ressurreição e a vitória de Cristo depois dos seus sofrimentos e morte, conforme narrado nos Evangelhos. Esta preparação é feita através de jejum, abstinência de carne, mortificações, caridade e orações.
Quadragesima, expressão latina típica na liturgia, denomina o período de quarenta dias de preparação para a Páscoa e que alude ao simbolismo do número quarenta com que o Antigo e o Novo Testamento representam os momentos salientes da experiência da  da comunidade judaica e cristã. Em seu simbolismo, este número não significa um tempo cronológico exato, ritmado pela sequência de dias; mas uma representação sociocultural de um período de duração significativa para uma comunidade de crentes.
A ideia dos Quarenta dias é bem marcada no Antigo Testamento, conforme vemos nestes exemplos abaixo relacionados:
1). Na história de Noé (Gênesis 7:4-12 e Gênesis 8:6), durante o dilúvio, é o tempo transcorrido na arca, junto com a sua família e com os animais. Após o dilúvio, passarão mais quarenta dias antes de tocar a terra firme.
2). Na narrativa referente a Moisés, é o tempo de sua permanência no monte Sinai – quarenta dias e quarenta noites – para receber a Lei (Êxodo 24:18). Quarenta anos dura a viagem do povo judeu do Egito para a Terra prometida (Deuteronômio 8:2-4).
3). No Livro dos Juízes, refere-se a quarenta anos de paz de que Israel goza sob os Juízes (Juízes 3:11).
4). O profeta Elias leva quarenta dias para chegar ao monte Horebe, onde se encontra com Deus (I Reis 19:8). Os cidadãos de Nínive fazem penitência durante quarenta dias para obter o perdão de Deus (Jonas 3:4-5).
5). Quarenta anos duraram os reinados de Saul (Atos 13:21), de Davi (II Samuel 5:4-5) e de Salomão (I Reis 11:42), os três primeiros reis de Israel.
6). O simbolismo do número quarenta também está presente em Salmos 95:10, referindo-se aos número de anos que o povo judeu caminhou pelo deserto.
No Novo Testamento não é diferente, lemos que:
1). Jesus foi levado por Maria e José ao Templo, quarenta dias após o seu nascimento, para ser apresentado ao Senhor (Lucas 2:22). Este período de quarenta dias era determinado pela lei judaica, quando uma mulher desse à luz a um filho homem. Foi a soma dos dias para a circuncisão de Jesus, após o parto, mais o período para a purificação de Maria. Só então ela poderia entrar no santuário (Levítico 12:2-4).
2). Jesus, antes de iniciar a sua vida pública, retira-se no deserto por quarenta dias e quarenta noites, sem comer nem beber (Mateus 4:2; Marcos 1:13 e Lucas 4:1-2).
3). Durante quarenta dias Jesus ressuscitado instrui os seus discípulos, antes de subir ao Céu e enviar o Espírito Santo (Atos 1:1-3).
O Papa Bento XVI, na Audiência Geral de Catequese, no dia 22 de Fevereiro de 2012, sobre o significado litúrgico dos "quarenta dias da Quaresma", assim definiu:
“Trata-se de um número que exprime o tempo da expectativa, da purificação, do regresso ao Senhor e da consciência de que Deus é fiel às suas promessas.” (1)

(1)  Papa Bento XVI (22 de fevereiro de 2012). Quarta-feira de Cinzas (audiência geral) (em português). Página visitada em 31 de março de 2014.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Quaresma

sábado, 29 de março de 2014

A QUARESMA E A TRISTEZA DIVINA - RUBEM ALVES

“Porque a tristeza de Deus produz mudança… mas a tristeza do mundo produz morte.” II Co 7:10



As quaresmeiras aí estão. Flores de fevereiro e março, anunciando que nem só de cores brancas e verdes vive a alma humana, mas também de lilases e roxas. Nem só de alegrias, mas também de tristezas. A propósito, não é tarefa das mais fáceis empreender um “dedo de prosa”, mínimo que seja, sobre o tema da tristeza. Houve tempos em que a tristeza era prima irmã da poesia, da musica, da vida. Pode-se dizer, com o testemunho de um bom numero de musicas que ainda hoje cantamos, que a tristeza sempre foi a matéria primado fazer poético. Quem nunca cantou: “Tristeza, por favor vai embora, minha alma que chora, está vendo o seu fim….”. Ou ainda: “Cantando eu mando a tristeza embora…” Mais: “Triste madrugada foi aquela em que perdi meu violão…”
 Essas músicas testemunham um tempo em que a experiência da alegria e da beleza só eram possíveis a partir do reconhecimento de uma certa tristeza nas pautas musicais da existência. Os tempos hoje são outros. Num projeto de vida em que as pessoas são tidas como máquinas, qualquer sombra de melancolia, de tristeza, de dor, deve ser abolida. Por uma simples razão: máquina não sente dor! Aos saudosos e melancólicos do presente, resta-lhes apenas o afogar-se nos remédios. É assim que lidamos com nossas tristezas: afogando-nos nos compridos.
O trecho da tradição bíblica que está em epígrafe acima faz referência à tristeza segundo Deus. Dorothee Sölle assim o interpretou: A presença divina nunca é presença observadora: a presença divina é sempre dor ou alegria de Deus. Mas, o que distingue a tristeza divina das tristezas do mundo? pergunta o apóstolo dos gentios. Tristeza do mundo é tristeza que gira em torno de si mesma, patina sem sair do lugar. É tristeza que paralisa no remorso, na lástima, no mórbido ruminar as faltas passadas, na lamuria sem fim. Nada se transforma, nada se metamorfoseia, nada muda. É tristeza que não conhece a esperança, o futuro, por estar afogada no passado. É Tristeza que mata, que corrói, que faz adoecer.
 Como exemplo, atente-se às tristezas próprias do mundo da aparência: a anorexia, a bulimia, sofrimento de um corpo que morre para parecer belo. Ou a tristeza do consumo: esse mal-estar diabólico que leva do nada a lugar nenhum. A tristeza da guerra, da destruição que faz morrer a palavra e perpetua o ódio.

A tristeza segundo Deus, porém, produz mudança, movimento, superação, transformação, produz vida. É tristeza que não patina nas culpas, mas avança na responsabilidade. Tristeza de parturiente, que traz a esperança e o futuro no ventre. É tristeza que gera a sagrada ira, a santa indignação, o grito, a libertação. Sem a participação na tristeza divina, o domingo da ressurreição não passa de oba-oba. Que as quaresmeiras e os ipês roxos, também próprios do tempo quaresmal, nos convidem a participar da tristeza segundo Deus, aquela que verdadeiramente nos conduz à mudança, ao arrependimento, à transformação.”
 http://www.claudiocarvalhaes.com/blog/dois-textos-sobre-quaresma-leonardo-boff-rubem-alves/

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

TEOLOGIA RELACIONAL: DISCURSO QUE ACALENTAM OS QUE TEMEM A SOBERANIA DE DEUS

A Teologia Relacional é uma nova perspectiva hermenêutica sobre Deus que se propõe a corrigir as pretensas distorções do teísmo clássico. Ela é apresentada como sendo uma proposta essencialmente prática e bíblica, elaborada no sentido de resolver as supostas contradições resultantes da crença em um Deus soberano em meio a uma realidade marcada pelo sofrimento.

Os partidários da perspectiva em questão continuam divulgando suas premissas por meio de palestras e diversos eventos religiosos. Além do mais, com o avanço da tecnologia, os canais tradicionalmente utilizados para difusões teóricas (livros, parlamentos, artigos acadêmicos, etc.) passaram a contar também com os fóruns de discussão on-line, tais como homepages, blogs, e outros.

O principal articulador dessa teologia no Brasil, o pastor da Igreja Assembléia de Deus Betesda, Ricardo Gondim Rodrigues. A princípio, as idéias de Gondim pareciam limitadas aos seus escritos e discursos. Curiosamente, porém, noções semelhantes começaram a aparecer em outros setores, defendidas por líderes de diferentes segmentos evangélicos. Bráulia Ribeiro, missionária da JOCUM e também articulista da revista Ultimato, esboçou sua preferência pela “limitação de Deus” para relacionar- se com seres humanos livres, mostrando-se disposta a aceitar, inclusive, uma redefinição da onisciência. Outro autor que tem expressado idéias semelhantes é o batista Darci Dusilek. Mais recentemente, Ed René Kivitz tem expressado sua proposta de uma reflexão teológica feita “de baixo para cima”, na qual deve ser deixado de lado “aquilo que Deus é em termos de sua perfeita natureza eterna, e focar sua atenção [a do teólogo] na maneira como Deus escolheu revelar e se relacionar com as pessoas na história”. Neste caso, os olhos do teólogo devem “deixar de lado a visão ideal e abstrata da filosofia, e se voltar para Jesus Cristo, suas ações e palavras, que revelam o Pai”.1  Aliás, em seu post sobre “teodicéia”, Kivitz propõe que a solução do problema do mal se encontra no fato de se “mudar o paradigma do pensamento que o criou”.

Assim como ocorre com o teísmo aberto nos Estados Unidos, também aqui no Brasil a Teologia Relacional não é defendida por um grande número de teólogos, mas aqueles que a defendem, ou que por ela demonstram simpatia, são pessoas articuladas e influentes. Logo, os impactos de seus escritos e pronunciamentos no meio evangélico são consideráveis. Além do mais, o assunto discutido por ela não é periférico, mas diz respeito ao próprio cerne da fé cristã.

Principais ênfases desta teologia:

1). Ênfase na liberdade humana em detrimento da onipotência divina.
2). A pressuposição de que a ideia da concepção do teísmo clássico sobre Deus foi corrompida pela influência do neoplatonismo agostiniano e o verdadeiro conceito bíblico de Deus precisa ser resgatado.
3). A ênfase na imutabilidade de Deus o torna um Ser insensível e impassível diante dos sofrimentos humanos.
4). A assertiva de que o relacionamento de Deus com os homens é determinado por seu amor e não por sua soberania.

5). O futuro está aberto para ser construído por Deus e os seres humanos em um relacionamento dentro do tempo.

1 KIVITZ, O Deus esvaziado. Cf. As vontades de Deus. Disponível em: http://outraespiritualidade. blogspot.com/2007/03/as-vontades-de-deus.html. Acesso em: 09 abr. 2007. Em seu livro Vivendo com propósito, Kivitz defende que “um Deus que não se esvazia é um diabo” e acusa parte do “teísmo clássico” de ter sido influenciado pela perspectiva grega sobre Deus. Cf. Vivendo com propósito. São Paulo: Mundo Cristão, 2003, p. 172-175.